quinta-feira, 3 de junho de 2010

Eu e Quincas Berro d´Água


Há cerca de seis anos eu estava passeando em Portugal e entrei num supermercado, em Cascaes, quando uma moça puxou conversa comigo. Falamos sobre os preços altos. Ela era moçambicana e tinha voltado para o país depois que a colonia se tornou independente. Eu disse que era brasileira e ao contar, que da Bahia, ela exclamou encantada: “bela terra”. Voce a conhece? pergunto  surpresa, e  ela  “sim dos livros de Jorge Amado”.
Vez ou outra penso na importância que Jorge Amado teve para a mitificação da Bahia como a terra de alegria de um povo bem humorado, criativo e irreverente.

E às vezes me pergunto se isso é uma mitificação ou realmente a Bahia é assim. Confesso que me inclino a achar que sim, que mais do que um ficcionista, ele foi uma espécie de sociólogo, antropólogo, alguém que captou como nenhum outro a essência da terra e do seu povo.
Fui assistir ao filme Quincas Berro d´ Água, baseado no seu romance do mesmo nome. Tantos anos morando em Salvador e ainda a vejo com os olhos de um cego. Por que dizem que o amor é cego e eu acredito. O fime, como bem comentou uma amiga, deixoa uma sensação de que falta ou que sobra alguma coisa. Mas eu, como os apaixonados, cegos, presto atenção no que quero prestar: na paisagem, no mar, na ingenuidade astuciosa dos personagens. E me divirto, como me divirto de verdade, quando ando pelas ruas desta cidade. Para mim, andar em Salvador ainda é fazer turismo. Tudo ou me encanta ou me irrita. Nada me deixa indiferente. O Pelourinho, onde trabalhei vários anos como assessora do Ipac, é exatamente aquilo ali: bêbados, mendigos,prostitutas,moradores, comerciantes,  gente comum. Vários quincas,  terezas,  rosas, vadinhos. ..
Não,  não é um mito. É a alma captada. Uma terra com um povo de
 primeira e governantes de quinta(sei que há exceções) .
Não me conformo com a sujeira, calçadas quebradas, e gente dormindo nas ruas. E penso que isso, sim, está sobrando. É over, super over. Não suporto.

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