segunda-feira, 30 de maio de 2011

Minha amiga Lady Kate





Minha amiga Lady Kate, esqueceu sua afinidade com a realeza britânica e com a sua xará duquesa hoje à tarde e rodou a baiana com todas as letras. Professora estressada, ganhando mixaria, com alunos despreparados e sem perspectivas de melhoras, ela não anda lá com muita paciência. Sem carro próprio, a coitada é mais uma vítima dos transportes coletivos de Salvador e hoje a situação mostrou como os passageiros dos transportes coletivos são tratados em Salvador.
 Lady Kate pegou um ônibus em Nazaré com destino à Piedade. Logo ao confirmar o roteiro soube que o ônibus não iria passar por lá e pediu para o cobrador mandar abrir a porta. Ele começou a reclamar que todos os ônibus da empresa passavam na Piedade menos aquele. E  disse que não iria ficar avisando ninguém disso.
Por fim, ficou batendo com uma moeda no metal para que o motorista abrisse a porta.
Lady Kate esperava educadamente impávida, segundo conta, enquanto o chofer fazia ouvidos moucos e passava pelos pontos sem parar para abrir a porta para que ela saltasse. Irritada, começou a falar mal o motorista em voz baixa, alta o suficiente apenas para que o cobrador e os passageiros mais próximos, perplexos, pudessem ouvir. “Era melhor do que ter um enfarto de raiva, companheira” (Kate é fundadora de um certo partido que antigamente pregava a , no tempo em que a palavra companheira tinha um significado de  ideal e ética. Apesar do termo estar comprometido, hoje em dia, ela continua usando).  “Bota no jornal companheira (de novo).
“O imbecil tinha obrigação de parar o veiculo para que eu saltasse, mas que nada. Só parou no Aquidabã. Ele estava me sacaneando sem o menor respeito. Xinguei de canalha, filho da p, prá baixo.Mas com toda classe. Quando desci, o cobrador começou a falar dichotes da janela tipo “toma ônibus errado e ainda bota banca e coisas assim.”. Me retei. A raiva subiu à minha cabeça. Por alguns instantes imaginei se um aluno me visse, se meu namorado soubesse, mas, com muita classe, e com muito orgulho levantei minha mão direita e  mostrei a ele o meu dedo médio”. “Dinheiro eu não tenho, mas tenho glamour”, brincou.

Obs: Lady Kate pediu para que eu não esquecesse de botar que o ônibus, com destino à Pituba, era da Empresa União, número 0412. 
  

domingo, 22 de maio de 2011

A Bela Abandonada

Hoje, ao voltar da minha caminhada dominical me senti tentada a imitar crianças que se balançavam na gangorra de um canteiro na Garibaldi. Vontade reprimida, pois não tenho mais 12 anos-felizmente ou infelizmente ou ambos- idade limite para que se possa usar o equipamento nos parques públicos. Imaginei um guarda chegando para mim e dizendo : “a senhora não tem mais idade para usar uma gangorra” e desisti. Embora costume dizer que não tenho medo do ridículo, tudo tem limites.
Retomei minha caminhada e comecei a subida para a Cardeal quando quase me bato com um maluco-mendigo, sujo, descalço e fedido, com uma cara meio animalesca e  me desvio enquanto ele me chama “minha senhora, minha senhora” e depois de “Rute, Rute”. Aumento o passo pensando que se ele vier atrás de mim estou frita. Não conseguiria subir a ladeira correndo. Aliás, a essa altura, nem uma rampa.
Ele segue seu caminho, e  eu o meu pensando nos nomes que alguns doentes mentais guardam e que estão sempre emergindo de suas memórias. O que significam esses nomes para elas, o que essas pessoas representaram em suas vidas, e, até se essas pessoas existem. Lembro-me da mulher no ponto de ônibus que agarrava as passantes e lhes perguntavam: “você é Marianne?”, e pedia “não me abandone, Marianne”.
A caminhada foi boa, embora me irrite sempre com o abandono que vejo na cidade: Do Rio Vermelho à Ondina e à Av. Garibaldi, poças de água suja, muito buraco nas calçadas, jardins sem manutenção e cheios de mato. Salvador é a bela abandonada.
Hulk faz revisão do meu texto
Na praia do Escorre Sangue, perto da Pedra da Sereia, o futebol domingueiro com dois times, devidamente paramentados, disputam partidas enquanto a torcida se comprime na amurada com um fervor digno dos estádios. Isso acontece quase todos os domingos e eu adoro ver. Dois times jogam, enquanto outros dois se preparam. Os jogadores se abraçam em círculo e gritam palavras de ordem. Acho isso tão legal. Esse levar a sério, essa dedicação a um entretenimento. Estão aguerridos, prontos para o jogo. Talvez esses atletas de fim de semana se dêem muito mais à partida e se divirtam também muito mais que aqueles que nadam em rios de dinheiro.E como acho que não há dinheiro que pague uma boa diversão, me alegro que estejam vivendo momentos  felizes.
A bela abandonada merece mais cuidados e seus habitantes também.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Filhos de Filó e Sofia e a quem interessar possa

Salvador, 19.05.2011
 



“A Virada Lingüística da Filosofia Contemporânea”


Os Filhos de Filó e Sofia era um bloco de carnaval dos alunos da Faculdade de Filosofia da UFBa que saía às ruas de Salvador anos atrás. Usei o título apenas para chamar a atenção de vocês. Quem gosta de filosofia tem a oportunidade de participar do III Simpósio de Filosofia que será realizado nos dias 26 e 27 próximos pela Faculdade São Bento da Bahia. Para abrir o evento, cujo tema é “A Virada Lingüística da Filosofia Contemporânea”, o convidado é o professor doutor Manfredo Oliveira da Universidade Federal do Ceará, autor de 20 livros sobre temas filosóficos. São dele, por exemplo, os livros Reviravolta-linguistico pragmática na filosofia contemporânea e Ética, Direito e Democracia. Outro convidado do simpósio é  João Carlos Salles, professor do Departamento de Filosofia da UFBA autor dos livros “A Gramática das Cores em Wittgenstein” e “O Retrato do Vermelho e outros ensaios”.
O Simpósio será realizado nos dois turnos: pela manhã, das 8h30 às 12h, no Centro Cultural da Câmara de Vereadores de Salvador, que fica no prédio anexo à prefeitura, e à tarde nas dependências da Faculdade. 
No dia 26, às 9h, Manfredo Oliveira abre o evento com palestra seguida de debates. À tarde, serão realizados os mini-cursos  A ética do discurso pelo prof. Daniel Lins (São Bento); Oficina Deleuziana do Pensamento – pelo prof. Paulo Vasconcelos (São Bento); e Do "isto é" ao "eu sou"- Considerações para uma Antropologia Metafísica pelo prof. José de Maria (São Bento) .
No dia 27, às 8h30, a palestra será realizada pelo professor João Carlos  seguida por debate e pela apresentação de uma mesa-redonda, tendo como debatedores os professores Haroldo Cajazeira (São Bento), Luciano Santos(Uneb) e Wagner Oliveira (UFBA)com a apresentação de mini-cursos. À tarde terão prosseguimento os mini-cursos e as Comunicações. A inscrição custa R$ 35 e poderá ser realizada na faculdade ou na abertura do evento. Mais informações pelo telefone 3322.4746 ou através do site www.saobento.org
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terça-feira, 3 de maio de 2011

De ônibus, a gente vê é coisa...

Estou andando de ônibus por causa da tal síndrome do túnel do carpo (DORT) nas duas mãos..Se o sistema daqui de Salvador não fosse essa m.... dava até pra curtir. Acontece muita coisa interessante.
Na ida, no ponto de ônibus havia uma deficiente mental (a vero) de macacão de florzinha e os seios quase de fora. Devia ter uns 30 e alguns anos. Ou menos. Percebi o olhar demente e passei ao largo, enquanto ela agarrava o braço de uma moça e pedia para ela não abandoná-la. "Não sou Mariane", dizia a moça que veio ficar perto de mim.
A mulher veio também e parou na minha frente, e ficou parada. Perguntou se eu era Marianne.Eu disse que não e comecei a conversar com ela que só falava frases desconexas. Perguntei onde morava e ela conseguiu dizer Periperi. Perguntou se eu era mãe dela, eu disse que não...
A impressão que dava era que alguém a colocou num carro ou ônibus e a abandonou lá.Pode ser fantasia minha, mas depois que o sistema criou os Caps para obrigar familias de doentes mentais a cuidarem deles (sem condição financeira ou técnica para isso) e acabou com os sanatórios, naquelas brilhantes ideias que só prestam na teoria, tudo é possível. Ela disse que estava com fome e eu a encaminhei para uma padaria...Quase que eu largo ela na frente da Itapoan, no programa de Varela.
Na volta, três adolescentes, com idade em torno de 17 anos, fardados, falavam alto, e naturalmente, sobre os roubos cometidos por um amigo e por eles também nos supermercados.Geralmente de sandálias, camisinhas, e chocolates numa prática que aparentemente era frequente. Falavam também nas vezes em que foram parados pela policia e tudo isso num tom de vantagem. Fiquei chocada com a naturalidade deles e depois de muito tentar me controlar bati meu leque num deles(sim,eu estava de leque; não posso andar com um ar condicionado na cabeça) .
"Olha, vs ficam fazendo besteira depois tomam um tiro e deixam a mãe chorando. Dentro de algum tempo- continuei- no Brasil só vai ter velho porque os meninos da idade de vs estão todos morrendo". Eles me olharam com cara de poucos amigos, mas eu acho que o sermão de alguma maneira os impressionou porque  começaram a repetir que só iam morrer quando "Deus quisesse"...
Embora fossem meninos de bairros pobres eles estudavam e certamente tinham família. Mas, roubar ,parecia ser a coisa mais natural do mundo...
Que triste.