quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Festa da Boa Morte em Cachoeira

É incrivel o descaso das autoridades municipais de Cachoeira para com a festa da Boa Morte. Fiquei horrorizada com a falta de organização do tradicional evento que acontece no dia 15 de agosto, quando é festejada a assunção de Nossa Senhora. A festa atrai turistas de todo o país e do exterior no chamado turismo étnico. Via-se americanos afro-descendentes vestidos de branco, como se fossem monges,monjas, ou africanos participando da festa. Mulheres vestidas de baianas (inclusive brancas), todos atrás das raizes perdidas nos EUA, devido ao protestantismo que não fez vista grossa, como a Igreja Católica, para com o sincretismo. Os católicos permitiram, conscientemente ou não, que os africanos no Brasil pudessem usar de subterfúgios para manter sua cultura, daí talvez a integração entre as culturas. Pois é: os administradores da cidade não se deram sequer ao trabalho de interditar o trânsito na área da festa -frente da Igreja e adjacências- e foi aquele inferno com carro passando no meio de gente, atrapalhando a procissão...Nunca vi isso em lugar nenhum. Uma autêntica bagunça. 
A festa vale como tradição. Em termos de espiritualidade, só a das irmãs.  Igreja lotada com gente conversando, falando ao celular e tirando fotos durante a missa. Incomoda e chateia quem leva à sério sua fé.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Mensagem de Regina Testa

Ontem, dia 3, foi o aniversário número 35 da Folha do Reconcavo. Nada de mais se fosse qualquer jornal. Porém a Folha é um patrimônio de Candeias, da região e de toda sua população, afrodescendente, guerreira, altiva. A Folha é um patrimônio da imprensa baiana por vários motivos:

1) O primeiro, sem dúvida, é por ser de Claudomiro, esta grande, maravilhosa figura, que é um orgulho para todos nós, jornalistas baianos, ou simplesmente baianos!

2) Por sobreviver a tantas, inúmeras e continuas dificuldades todo o tempo, o tempo todo. É a verdadeira resistência negra na Bahia.

3) Por não precisar ser bem escrita e bem revisada para ser aceita e conquistar a confiança dos leitores. Às vezes um erro aqui, outro acolá, mas nada, absolutamente nada tira dos seus leitores o ânimo pela leitura e a confiança no jornal.

4) Por ter resistido a tantos políticos e pressões políticas e de toda ordem ao longo dos seus 35 anos. Sabe como é, imprensa de interior, se falar a verdade os políticos acham que está falando mal. Só querem baba ovo!
Parabéns Claudomiro! Parabéns Candeias por ter Claudomiro e a Folha. Da qual além de leitora e admiradora, também sou repórter com muito orgulho.



segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O outro, lá ele....

Semana passada, um assalto às 3 horas da tarde tirou a rua Alagoinhas da sua costumeira modorra. Ouvi um alarido, alguém chorando, pensei que era brincadeira dos meninos. Fui  à janela, vi o burburinho e desci para saber o que havia acontecido. Uma moradora ia estacionando o carro-um Corsa sedã- na frente do prédio quando um homem surgiu do "nada" arrancou-a do volante, jogou-a no chão, entrou no carro, jogou fora uma chave que tinha na mão e foi embora.
As pessoas se solidarizaram com a garota e os relatos sobre o assalto continuaram pelo resto do dia, e no outro também. O assaltante tinha estacionado um Fiesta atrás do carro da vítima (a chave que ele jogou fora era do veículo), saltou pegou o carro dela e se mandou. "O carro tinha seguro" informou um funcionário da área como se isso  fosse tranquilizar os moradores locais. Uma coisa tão banal...
Dias depois, passeando com meu cachorro, vi passando uma senhora que  tinha assistido ao assalto e que da minha janela eu vira dando informações ao vizinho. Perguntei: não foi a senhora que estava aqui na rua no dia do assalto? Ela disse que sim e começamos a conversar. Ela contou que ia subindo a rua com outras quatro pessoas quando ocorreu o roubo.
Perplexa, disse que nunca pensou quem "um de nós" fosse assaltante. Um de nós?, repeti perplexa. "Sim, um homem que ia subindo ao mesmo tempo que eu e as outras pessoas",confirmou.  O tal do "um de nós" me revolveu o estômago. Um de nós, não, pensei agastada, para logo em seguida ter um choque mental.
Não é que ela tem tazão? O sujeito é um de nós. Os traficantes, criminosos, ladrões, corruptos,mendigos, bêbados, junkies, fracassados, ricos, pobres, gente boa gente má, todos eles  não são o Outro. Eles são - com toda certeza- Um de Nós.
E agora?