domingo, 2 de setembro de 2012

Capitães do nada

Hoje, pela manhã, ao andar com Hulk, meu caõzinho como faço todos os dias, hesitei quando vi vindo em minha direção três meninos entre 12 e 14 anos, obviamente moradores de rua, sujos, sujos e sujos. Não sujeira de poeira, de lama coisas assim. Roupas sujas de não serem trocadas ou lavadas há muito tempo. Me controlei, e passei por eles que não estavam preocupados comigo, e olhavam para trás o tempo todo. Olhei e vi um caror de policia parado mais adiante e um outro menino parado olhando para o carro da policia enquanto os amigos gritavam para que viesse com eles. Perguntei a um deles"é sse que não. Não estavam drogados. O carro da policia parou junto a eles, deram um baculejo, não estavam armados.Tiraram um monte de papéis do bolso de um deles. O policial rasgou os papés e jogou-os um junto a um poste (poxa, sujaram a calçada, pensei). Depois que saíram, fui até lá e peguei os papéis rasgados, todos do mesmo tamanho e juntei as partes. Estava impresso: "Bom dia, Boa tarde, Boa noite. Estou pedindo uma pequena ajuda para botar uma guia de amendoim dourado. Você dá e Deus te dá amanhã em dobro.Qualquer quantia é suficiente.Obrigado e boa viagem". Quem anda de ônibus está acostumado a receber esses papéis e similares de meninos e mesmo adultos pedintes. Tudo organizado. 
Isso, ao meu ver, é coisa de quadrilhas que exploram meninos em situação de risco . 
Possivelmente, entre uma oportunidade e outra, os meninos roubam. perguntei a um deles. Porque a policia pegou o amigo de vocês? "A mulher disse que ele ia roubar ela", respondeu um deles.Roubou? perguntei. "Não", ele disse. os meninos seguiram, a policia também.
De repente, a policia parou mais  mais três que vinham atrás. Me aproximei. os meninos suspenderam as mãos, os policiais olharam para ver se estavam armados. mais papeizinhos rasgados. "Tem dinheiro aí?", perguntou um policial. Parei e fiquei olhando. Não tinha dinheiro. "Vocês vem da casa do...  para roubar aqui. Se adiantem, não quero ver vocês pelo bairro", mandou o policial. Os meninos seguiram.Fiquei penalizada com a situação deles. Obviamente , não sou ingenua de pensar que eles eram garotos inofensivos. Sabe-se lá o que seriam capazes de fazer por R$ 5 ou R$ 10. Percebi uma certa solidariedade entre eles, quando vi que paravam para esperar os outros, em lugar de saírem correndo como era de se esperar.
O que me entristece e me deixa indignada é a falta de oportunidades dessas crianças. São bichinhos, nasceram bichinhos, vivem como bichinhos e provavelmente morrerão assim.  O que está se fazendo para dar a essas crianças um lugar decente na sociedade? Nada. Só discursos. O Brasil melhorou para quem, senhor ex-presidente dos "alinhados"? Melhorou principalmente para aqueles que já estavam bem.  O assistencialismo do bolsa familia e similares não chega para todos. Os miseráveis não precisam de esmolas. Precisam deixar de ser miseráveis. O que é que o governo que se auto intitula "nunca na história desse país" fez por esses meninos? O que o governo atual está fazendo por eles. Nada. Eles morrerão bichinhos e a continuar no rumo que estão acabarão matando e sendo mortos. E as pessoas que os exploram e certamente ficam a esperar dos trocados que eles levam? De certa forma os protegem, já que o Estado não faz. Não acredito em nenhum governo que não faça nada por essa gente. Sem demagogia, sem cinismo e sem a egolatria dos farsantes de sempre.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Debate fraco

Tendo em vista a mediocridade do debate realizado ontem pela TV. Bandeirantes com os candidatos à prefeito de Salvador- parece que os candidatos só conhecem da cidade o que sai publicado nos jornais- e a "ameaça" velada de Pelegrino, do PT, para a qual eu acho que, na realidade, ninguém está dando importância- de que o governo municipal deve estar alinhado ao estadual e ao federal para receber recursos, acredito que seria de bom alvitre um esclarecimento sobre as obrigações do Estado e da Federação para com os municípios, independente dos joguinhos sórdidos de "amigo e inimigo" que tanto prejudicam a população.
Afinal, qual o quanto  o Estado e a Federação  têm obrigação de repassar para as capitais?  O dinheiro do governo  pertence aos  partidos aos governadores, e ao presidente? O povo é o legítimo credor desses recursos e   não quer saber de alinhamento nem de partidinhos e coisa tal. Tem direito a querer e a ter uma cidade melhor e a escolher aquele (a) que acredita estar melhor preparado e pronto. Os governos estaduais e federal, independente do partido que APENAS está no poder, não são donos do país, têm deveres com a sociedade e com Salvador, primeira capital do país, bonita e multicultural que atrai turistas do Brasil e do mundo inteiro. Esse tipo de "ameaça" deveria ser assunto policial e não político.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Salvador, cidade fortaleza e mãe

Foto: Hieros Vasconcelos

* Aurora Vasconcelos

Quando Thomé de Souza chegou à Baía de Todos os Santos, há 463 anos atrás, trazia como missão construir a mais poderosa fortaleza militar de Portugal no Hemisfério Sul.  A cidade nasceu de um projeto político com regimento datado de 17 de dezembro de 1548 que instituiu para ela poderes e deveres, limites e ações, forma e conteúdo. As informações fazem parte do livro “A Fortaleza do Salvador na Baía de Todos os Santos”, de Luiz Walter Coelho Filho, um advogado que transformou seu amor por Salvador e o interesse pela sua história em um ensaio, que conta detalhadamente como foi criada a primeira capital geral do Brasil, em apresentação escrita pelo historiador Francisco Senna.
Essa história está no Códice 112 , livro de registros dos atos do Governo Geral, aberto em 1º de janeiro de 1549. A seleção do local, a definição do perímetro, a construção dos acessos, a articulação entre o alto e o baixo, o traçado urbano, a localização da Sé, a posição da praça principal, a simetria das formas, a concepção dos baluartes e tantos outros itens, como explica o autor do ensaio, possuem individualidade histórica.
Os turistas que caminham sobre as pedras do Centro Histórico de Salvador, e principalmente os próprios baianos, em geral desconhecem os interesses e detalhes que deram origem a esta cidade que têm hoje cerca de três milhões de habitantes e que carece de um novo projeto para transformá-la numa cidade mais habitável e acolhedora.. A  polis cresceu, se expandiu e seus constantes engarafamentos e dificuldades de locomoção, bem como construções irregulares de ponta a ponta, comprovam a falta de um plano administrativo tornando a cidade viável para a sua população.
A Salvador, que fica fora dos limites do Centro Histórico e também dentro dele, está quase insuportável na visão dos seus moradores, que trocam impressões pelas redes sociais lamentando e exigindo mais cuidados para a formosa matriz das capitais brasileiras. Embora o objetivo dos portugueses tenha sido uma cidade forte, capaz de defender seus interesses dos piratas e dos inimigos do Reino, a sua criação no platô da Misericórdia tornou possível admirar a maravilhosa vista da Baía de Todos os Santos e de vários recantos da Soterópolis.
O traçado do projeto está preservado no Centro Histórico, como enfatiza Luiz Walter: algumas ruas foram alargadas, as rampas de acesso foram secionadas pela Ladeira da Montanha, a Igreja da Sé foi demolida para dar passagem às linhas dos bondes em 1938, no que os historiadores consideram um erro histórico, mas o básico ainda está lá. E é preciso dignificar a nossa história. Ao tentar fazer a sua parte, o escritor que nesta quarta vai receber a medalha Thomé de Souza, na Câmara dos Vereadores, estará lançando um vídeo com a reconstituição do projeto no sítio original. Um presente para a cidade que na visão daqueles que a amam merece mais respeito e mais carinho daqueles que a administram.

·      Publicado no jornal Tribuna da Bahia  de 28/032012

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

CARNAVAL DE PELEGOS

TÁ DOMINADO!

Eu já sabia, tinha percebido há  tempo e hoje durante a Mudança da Garcia, me desiludi de vez. O bloco acabou. Pelo menos conceitualmente. Hoje, os grupos que se encontram no fim de linha do Garcia desfilam separadamente sem nenhuma coesão. Uma crítica ou outra, alguma coisinha engraçada ali e nada mais de novo.Feijão com arroz. O pessoal da CÛT, por exemplo,  não se dá nem ao trabalho de fazer cartaz novo. Com todos os escândalos que irromperam no país de um ano para cá eles desfilam com cartazes velhos falando de Inss, Previdência, ditados e um monte de coisa sem importância para quem quer que seja. Sem importância até para eles. É nisso que dá vender a alma ao diabo. Os vendidos estarão sempre subjugados a quem os comprou...
É assim que se acabam. Vão se diluindo aos poucos. 

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Odo Yá rainha do mar

Enquanto eu fazia um escalda-pé com sal grosso,  para aclamar meus pobres pezinhos, meditava sobre o que poderia ser feito para melhorar a festa de Iemanjá. Geralmente, passo no Rio Vermelho de manhã cedo para colocar minha rosa no cesto de presentes cumprindo as obrigações baianas. Hoje, não deu. Fui na hora em que os presentes saíam para serem jogados ao mar. Detesto muvuca, embora como uma pessoa gregária que sou tenha participado de muitas por conta das minhas amizades festeiras, principalmente quando mais  jovem. Mas, sei  andar em uma sem que sequer pisem no meu pé. É só ficar tranquila e seguir o fluxo. Também nunca fui roubada ou sofri qualquer tipo de agressão, empurrão etc etc.
Mas, acho que a administração municipal tem que dar um poouco de ordenamento à festa. É over aquele número enorme de ambulantes carregando caixas gigantes de isopor no meio do povo, carrinhos de bebida por toda a parte, meninos vendendo queijo coalho no meio da multidão com o fogareiro aceso. Tinha que ter uma área fixa para esse pessoal ficar. Muito lixo em tudo quanto era lugar , latas de cerveja, de refrigerante, copos etc. Estou ficando com fobia lixal. Não posso ver lixo que me dá vontade de pegar uma vassoura e botar, é claro, na mão dos sugismundos.
Muita gente com crianças de todas as idades, até em carrinhos de bebê. Embora ache um risco levar crianças para festas como essas, com gente demais de um lado a outro- não encontrei um conhecido sequer e sei que meus amigos estavam lá- fico pensando que são essas crianças que vão manter a tradição no futuro.
De toda forma, não seria ruim se as coisas voltassem a ser como antigamente , quando a festa foi iniciada e ficava restrita aos pescadores e aos devotos da orixá.
Já é tarde – voltei cedo. Passei lá só umas duas horas e me preocupo com os meus que ainda não voltaram após ler noticias sobre arrastões e sobre a chegada de uma força nacional nos sites. Prá que usam celular se não atendem? Não há de ser nada. Que Iemanjá nos proteja.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Desocupa o camarote



 “Pense num absurdo. Na Bahia tem precedente”. A frase do governador Octávio Mangabeira já está surrada, porém continua mais atual do que nunca no estado. Desta vez, o absurdo foi a liminar expedida pela juíza Lisbete Maria Almeida, da 7ª Vara da Fazenda Pública, proibindo uma manifestação popular contra a ocupação da Praça de Ondina, que é pública, já OCUPADA  pelo Camarote Salvador da empresa Premium Eventos, que tomou toda a área incluindo partes da praia do referido bairro. A juíza proibiu a jornalista Nadja Vladi, uma das líderes do Movimento Desocupa de comparecer ao evento sob pena de pagar multa diária de R$5 mil reais.
Fiquei numa dúvida profunda:  porque a desimportância da lei que garente que todos podem podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local?
A  atitude  da juíza desagradou a  todos os que prezam a liberdade de expressão e cerca de 400 pessoas compareceram à manifestação para protestar contra a ocupaçã do local pelo camarote, expandindo o protesto contra o desgoverno municipal e o uso de áreas públicas para a construção dos camarotes, cujos lucros milionários não são revertidos em benefício da cidade.  A manifestação foi uma grande festa- com microfone aberto a todos aqueles que quiseram protestar contra os desmandos desta cidade abandonada pelos poderes públicos, como uma vaca da qual tiram todo o leite e deixam na pele e no osso.
A instalação de camarotes na cidade é considerada uma mina de ouro para seus donos. Conforme os sites noticiosos, no do Premium, o camarote em questão da  praia de Ondina, a diária mais barata custa R$490 e a mais cara R$ 900. Para quem compra o pacote o custo é menor: o kitr masculino para seis dias sai por R$4.980 e o feminino por R$3.690.
Esse lance de proibição das pessoas se manifestarem contra um empreendimento acordado  entre empresários e poderes públicos municipais me deixam com a pulga atrás da orelha. Começo a ver as coisas com uma ansiosa antecipação. Não me sai da cabeça o projeto do PT de “redemocratizar a imprensa”, eufemismo usado para controlar a mídia que não dance conforme a música do partido,  e  até  essa tal comissão estadual de regulação da imprensa criada recentemente pelo governo do Estado.
Por outro lado, já se viu que o povo baiano e soteropolitano, em particular, não gostam nada de ser reprimidos nos seus justos direitos. O movimento vai continuar. E os donos de camarote que se preparem. A prefeitura vai ter que provar que esses empreendimentos dão lucro a cidade, informar de quanto foi esse ganho e onde a grana vai ser utilizada.
Um dos discursos do superintendente de Controle e Ordenamento do Uso do Solo (Sucom), Cláudio Silva, responsável pelo acordo com a empresa foi o de que não há o que se discutir porque o contrato trouxe benefícios para a cidade e que aquela era uma área usada inclusive para o tráfico de drogas. As más linguas do facebook e de outras redes insinuam que no quesito das drogas deve mudar apenas a clientela, o preço e a quantidade. Mas, nisso eu não me meto porque não frequento camarotes e nunca vi nada.
Enfim, os donos de camarotes e seus acordados que se segurem. Tudo indica que a partir de agora, o povo vai estar de olho neles. A prefeitura que prepare seus recibos e notas fiscais. Se entra dinheiro nessa ocupação desavergonhada do espaço público de Salvador, a grana tem que ser revertida para a cidade, o que até agora ninguém viu acontecer. O que se vê é a situação de decadência e degradação em que nossa terra se encontra. E isso já passou dos limites há muito tempo.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

QUE CORTEJO É ESSE?


A Lavagem do Bonfim não é mais aquela

Faltou jegue, mas sobraram veículos motorizados no cortejo da Lavagem do Bonfim. Tinha bloco com carro de apoio com bebidas e mini-trios. Faltaram também fanfarras e bandas. As que lá estiveram foram poucas, e, por volta das 10h30 o cortejo já tinha acabado nas imediações da Associação Comercial, embora o fluxo de pessoas em direção ao Bonfim continuasse grande.
Ouvi pelo rádio que as autoridades se atrasaram e que a cerimonia religiosa acabou não começando no horário. Eu também me atrasei e não vi a saída das baianas, nem a dupla de porta-estandarte e mestre–sala da Portela, mas não sou autoridade e não tinha outro compromisso, a não ser satisfazer meu lado erê.
Faltou a desorganização coesa dos outros anos. Os grupos vinham afastados uns dos outros não mais como um cortejo, mas como várias caminhadas. Sobrou também propaganda política. Muitos balões, banners  e camisetas com nomes dos partidos. Ano eleitoral é um saco. Os políticos e autoridades passaram em brancas nuvens pelo povo, sem aplausos nem vaias. Um silêncio de morte?
Durante o trajeto se vendia feijoadas em vários points onde rolava um sambinha e alguns paravam para se divertir. Até agora, eu estou tentando digerir a moela do Cólon, restaurante da Cidade Baixa- não confundir com  cólon intestino. Esqueço que meu fígado sempre protesta me provocando uma baita dor de cabeça.
Nessas horas vem o lado amargo da minha gula: chá de boldo e camomila. Entre as coisas divertidas, um grupo de estrangeiros fazia a sua estréia na festa, com uma batucada mais ou menos e duas ritmistas na frente, que com certeza tomaram aula de dança afro e aprenderam direitinho. Porém, apesar dos movimentos corretos, havia uma coisa que não se encaixava. Falta de molejo? Pareciam tão preocupadas em não errar os passos que não se divertiam. Se eu estivesse em outro país, juro que não adivinharia que dança era aquela.  Contudo, imagino que esta será uma das boas recordações que o grupo vai guardar para o resto da vida.
Na realidade, o que sinto é que está faltando um tratamento carinhoso para as festas populares por parte das autoridades. É verdade que o cortejo se fêz sozinho e que é levado de forma quase espontânea pelos participantes, mas, já que os políticos usam a ocasião para fazer propaganda, bem que poderiam trabalhar no sentido de dar mais vida e mais som à festa com a contratação de sambistas e de fanfarras, antes que a festa acabe e que as pessoas resolvam ir para o Bonfim cada um por sua própria conta e caminho.