quinta-feira, 17 de junho de 2010

Da janela do buzu eu vejo o mundo



Tem gente que me olha com estranheza quando digo que,  de vez em quando, gosto de andar de ônibus. De ônibus, a gente vê coisas que não vê quando está dirigindo. Fora  as pessoas que se encontra, as conversas que se ouve,  pessoas,  coisas, acontecimentos....Não chega a ser uma tortura e é até divertido.  
No natal de 2003 num almoço para a imprensa, oferecido pela Salvatur,  ganhei em sorteio uma passagem para a Europa, com direito a acompanhante. Estava sem dinheiro para a viagem e meu carro só me dava problemas. Como se diz matei dois coelhos com uma cajadada só: vendi o carro e fiquei com dinheiro para viajar.  Fomos para  Portugal, eu e meu filho então um adolescente.  Adorei Lisboa, Fátima, Nazaré, o Porto. Foi bacana.
Volta. Meu filho passa no vestibular de faculdade paga: faculdade ou carro novo? Dois financiamentos  não dá. Tenho ojeriza a dívidas. Então, faculdade  e  buzu.  O eu ter que andar de ônibus deixava minhas amigas mais incomodadas do que eu. Uma delas, espírita como eu e que também estava no modo que, aqui em Salvador, chamamos vulgarmente de “paleta “ disse que estávamos em “resgate cármico”. Eu, como tenho certeza, que não fui lá flor que se cheirasse achei a pena justa. Me conformei  e  fiquei andando de onibus para cima e para baixo.  Foi um “resgate” até certo ponto divertido. Um ônibus é uma pequena mostra social da cidade. Quem anda de ônibus vê  e sabe mais do que quem anda de carro  que precisa estar sempre atento ao trânsito e aos pedestres. De ônibus a gente olha o céu, o chão, os entornos, as favelas, os buracos, beleza e feiúra. Sem falar na vida humana que os coletivos carregam. Geralmente, eu gosto de gente. E curto muita gente que anda nos ônibus, pessoas na maior parte das vezes espontâneas e engraçadas. Ouvi histórias ,casos,e presenciei situações muitas vezes inusitadas (inclusive, fui assaltada uma vez e o ladrão levou meu relógio,  o que me chateou porque era Gucci, e, que relevei depois porque, na verdade, era um relógio muito feio).
Lembrei dessas coisas porque quando vou ao centro da cidade prefiro ir de onibus para não pegar engarrafamento e não ter que ficar procurando lugar para estacionar, o que me estressa. Ontem, fiz isso. E resolvi que vou fazê-lo mais vezes. É uma forma de não perder o contato com a cidade e de ver pessoas encantadoras, bem do tipo nosso povo, nossa gente. Andar de ônibus não permite que a gente se aliene da realidade .
Mas, sem dúvida nenhuma, é preciso ter canja. Eu, felizmente, tenho.



Nenhum comentário: