domingo, 15 de janeiro de 2012

Desocupa o camarote



 “Pense num absurdo. Na Bahia tem precedente”. A frase do governador Octávio Mangabeira já está surrada, porém continua mais atual do que nunca no estado. Desta vez, o absurdo foi a liminar expedida pela juíza Lisbete Maria Almeida, da 7ª Vara da Fazenda Pública, proibindo uma manifestação popular contra a ocupação da Praça de Ondina, que é pública, já OCUPADA  pelo Camarote Salvador da empresa Premium Eventos, que tomou toda a área incluindo partes da praia do referido bairro. A juíza proibiu a jornalista Nadja Vladi, uma das líderes do Movimento Desocupa de comparecer ao evento sob pena de pagar multa diária de R$5 mil reais.
Fiquei numa dúvida profunda:  porque a desimportância da lei que garente que todos podem podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local?
A  atitude  da juíza desagradou a  todos os que prezam a liberdade de expressão e cerca de 400 pessoas compareceram à manifestação para protestar contra a ocupaçã do local pelo camarote, expandindo o protesto contra o desgoverno municipal e o uso de áreas públicas para a construção dos camarotes, cujos lucros milionários não são revertidos em benefício da cidade.  A manifestação foi uma grande festa- com microfone aberto a todos aqueles que quiseram protestar contra os desmandos desta cidade abandonada pelos poderes públicos, como uma vaca da qual tiram todo o leite e deixam na pele e no osso.
A instalação de camarotes na cidade é considerada uma mina de ouro para seus donos. Conforme os sites noticiosos, no do Premium, o camarote em questão da  praia de Ondina, a diária mais barata custa R$490 e a mais cara R$ 900. Para quem compra o pacote o custo é menor: o kitr masculino para seis dias sai por R$4.980 e o feminino por R$3.690.
Esse lance de proibição das pessoas se manifestarem contra um empreendimento acordado  entre empresários e poderes públicos municipais me deixam com a pulga atrás da orelha. Começo a ver as coisas com uma ansiosa antecipação. Não me sai da cabeça o projeto do PT de “redemocratizar a imprensa”, eufemismo usado para controlar a mídia que não dance conforme a música do partido,  e  até  essa tal comissão estadual de regulação da imprensa criada recentemente pelo governo do Estado.
Por outro lado, já se viu que o povo baiano e soteropolitano, em particular, não gostam nada de ser reprimidos nos seus justos direitos. O movimento vai continuar. E os donos de camarote que se preparem. A prefeitura vai ter que provar que esses empreendimentos dão lucro a cidade, informar de quanto foi esse ganho e onde a grana vai ser utilizada.
Um dos discursos do superintendente de Controle e Ordenamento do Uso do Solo (Sucom), Cláudio Silva, responsável pelo acordo com a empresa foi o de que não há o que se discutir porque o contrato trouxe benefícios para a cidade e que aquela era uma área usada inclusive para o tráfico de drogas. As más linguas do facebook e de outras redes insinuam que no quesito das drogas deve mudar apenas a clientela, o preço e a quantidade. Mas, nisso eu não me meto porque não frequento camarotes e nunca vi nada.
Enfim, os donos de camarotes e seus acordados que se segurem. Tudo indica que a partir de agora, o povo vai estar de olho neles. A prefeitura que prepare seus recibos e notas fiscais. Se entra dinheiro nessa ocupação desavergonhada do espaço público de Salvador, a grana tem que ser revertida para a cidade, o que até agora ninguém viu acontecer. O que se vê é a situação de decadência e degradação em que nossa terra se encontra. E isso já passou dos limites há muito tempo.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

QUE CORTEJO É ESSE?


A Lavagem do Bonfim não é mais aquela

Faltou jegue, mas sobraram veículos motorizados no cortejo da Lavagem do Bonfim. Tinha bloco com carro de apoio com bebidas e mini-trios. Faltaram também fanfarras e bandas. As que lá estiveram foram poucas, e, por volta das 10h30 o cortejo já tinha acabado nas imediações da Associação Comercial, embora o fluxo de pessoas em direção ao Bonfim continuasse grande.
Ouvi pelo rádio que as autoridades se atrasaram e que a cerimonia religiosa acabou não começando no horário. Eu também me atrasei e não vi a saída das baianas, nem a dupla de porta-estandarte e mestre–sala da Portela, mas não sou autoridade e não tinha outro compromisso, a não ser satisfazer meu lado erê.
Faltou a desorganização coesa dos outros anos. Os grupos vinham afastados uns dos outros não mais como um cortejo, mas como várias caminhadas. Sobrou também propaganda política. Muitos balões, banners  e camisetas com nomes dos partidos. Ano eleitoral é um saco. Os políticos e autoridades passaram em brancas nuvens pelo povo, sem aplausos nem vaias. Um silêncio de morte?
Durante o trajeto se vendia feijoadas em vários points onde rolava um sambinha e alguns paravam para se divertir. Até agora, eu estou tentando digerir a moela do Cólon, restaurante da Cidade Baixa- não confundir com  cólon intestino. Esqueço que meu fígado sempre protesta me provocando uma baita dor de cabeça.
Nessas horas vem o lado amargo da minha gula: chá de boldo e camomila. Entre as coisas divertidas, um grupo de estrangeiros fazia a sua estréia na festa, com uma batucada mais ou menos e duas ritmistas na frente, que com certeza tomaram aula de dança afro e aprenderam direitinho. Porém, apesar dos movimentos corretos, havia uma coisa que não se encaixava. Falta de molejo? Pareciam tão preocupadas em não errar os passos que não se divertiam. Se eu estivesse em outro país, juro que não adivinharia que dança era aquela.  Contudo, imagino que esta será uma das boas recordações que o grupo vai guardar para o resto da vida.
Na realidade, o que sinto é que está faltando um tratamento carinhoso para as festas populares por parte das autoridades. É verdade que o cortejo se fêz sozinho e que é levado de forma quase espontânea pelos participantes, mas, já que os políticos usam a ocasião para fazer propaganda, bem que poderiam trabalhar no sentido de dar mais vida e mais som à festa com a contratação de sambistas e de fanfarras, antes que a festa acabe e que as pessoas resolvam ir para o Bonfim cada um por sua própria conta e caminho.