sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Filha, eu quero morrer....

Mãeeeeeeeeeeee, eu quero morrer.......Mainha, eu querooooo morrer. O pedido angustiado de uma moça com deficiência física e aparentemente com deficiência mental tinha o peso de uma toalha molhada, batendo nos pacientes que esperavam o atendimento no consultório médico. A mãe, constrangida, pedia: “Cale a boca, fulana, você esta deixando as pessoas constrangidas...Fulana continuava, mãe eu quero morrer, eu quero morrer.....


A mãe explica que a filha tem 37 anos ( não parece) e que tem paralisia cerebral desde que nasceu. A ladainha recomeça e algumas pessoas se mostram claramente incomodadas para desespero da mãe. Uma mulher tenta tranqüilizá-la e pede que ela não se preocupe. O pior que pode acontecer, diz, é todo mundo que está no consultório começar a fazer coro com a moça que quer morrer. Todos riem. Uma mulher se retira e uma outra confessa: “Já pedi isso muitas vezes”. A moça pede de novo que a mãe a ajude a morrer. A mãe tenta acalmá-la: “ Deixe pra amanhã, senão você não vai poder falar com sicrana”, a irmã que chega de viagem. A moça se cala por alguns momentos, ela quer ver a irmã que vai chegar, mas logo se esquece e pede de novo para morrer à mãe torturada. “Compre um caixão pra mim”... Alguém tenta distraí-la: “Qual a cor que você quer para o seu caixão?” Ela responde “Marrom”. “Marrom é uma cor muito feia. Por que não rosa”? A moça não responde e recomeça. A mãe conta que houve uma época em que ela achava estar grávida. Era dia e noite falando da gravidez e do bebê. O problema foi resolvido pela empregada da casa. Comprou uma boneca e deu pra ela que a chamava de filha. Com o tempo, o anseio de maternidade foi passando. A vontade de morrer perdura. A mãe diz que quem se suicida vai para as trevas. A moça agora diz “Mãe eu vou para as trevas, eu quero morrer mãe”....

A situação vai ficando cada vez mais tensa. O médico pergunta se as pessoas que chegaram antes se importam de que a moça passe na frente delas. Todos concordam. A moça entra. As pessoas pensam na mulher e nos seus 37 anos de sofrimento e no que ela, provavelmente, diria se pudesse: “Filha, eu quero morrer, filha.............

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Última viagem

Um morador de rua se jogou hoje pela manhã do Elevador Lacerda. Os comerciantes da área dizem que era um usuário de crack. Já tava morto, o coitado, como as dezenas de sombras que perambulam pela área. Embora já não se perceba, usuário de crack também é gente.