quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

De Web Jet a Web Jeg: 5 horas de Salvador para o Rio

Web Jeg foi como os passageiros do vôo da Web Jet que deveria sair de Salvador às 17h, com conexão em Belo Horizonte, saiu  às 17h20 e chegou às 22h ao Rio. No Aeroporto de Confins, em Minas, a confusão era grande e os passageiros embarcaram com mais de uma hora de atraso.O piloto explicou que um avião teve uma pane e que a coordenação tentou trocá-la por outra e que o trabalho não deu certo. A coordenação foi descoordenada.
Depois de enfrentar várias turbulências, ao chegar no Santos Dumont outra novidade. As bagagens extraviaram e viriam por um avião da Trip. Mais 40 minutos de espera. Alguns passageiros perderam seus vôos de conexão. Uma moça teve sua mala violada. Enfim, só as 23 horas conseguimos deixar o aeroporto.
Durante o estresse gerado pelo extravio das malas, uma funcionária explicou que tiveram que passá-las para o avião da Trip porque o do Web Jet estava com muito peso: "Vocês prefeririam que o avião caísse?" indagou para indignação dos passageiros.
Eu, tirando esses perrengues até que gostei da viagem. O vôo foi tranquilo e as turbulências tiveram seu lado divertido. Parecia um parque de diversões com o avião balançando toda e um gaiato falando" êta estradinha ruim".
Bom, felizmente, o avião não caiu e estamos no Rio de Janeiro. Meu filho me convida para ir ao Centro Cultural Carioca. Acho que não. Depois de tantas emoções eu quero é uma boa cama.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Troquei casinha na Marambaia pela interação no facebook. Mas não vai ficar assim.

Tenho andado afastada do blog.
A culpa é do facebook que toma muito o meu tempo.
Passo para dar uma olhadinha e lá estou eu dando palpite em tudo. Quando vou ver, já se passaram uma, duas horas. É um passatempo e tanto. Deve ser por causa do facebook que o ano já está acabando.Voou. Percebo sequelas do tempo em meu rosto. É natural.
Não digo que fico feliz, mas é melhor do que estar morta.
Fico pensando que meu rosto não combina comigo. Me sinto tão menina.
Acho que por dentro parei nos 17 anos, com todas as vantagens de minha idade atual.
Isso é bom? Isso é mal?
Para mim, como já disse, é bem natural.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O povo não tem mais paciência para com os corruptos

Os estudantes na entrada do Palácio de Ondina
“O povo acordou. O povo decidiu. Ou para a roubalheira ou paramos o Brasil”, ”Agiliza por favor, 15 anos é demais para o Metrô”. Até  o velho  slogan usado na época dos protestos contra a ditadura “o povo unido jamais será vencido”  foi ressuscitado pelas centenas de jovesns estudante que junto à  pessoas de variadas idades e profissões participaram hoje à tarde da Marcha contra a Corrupção que saiu do Cristo da Barra e foi até as imediações do jardim Zoológico, em Ondinha. Aos gritos, os manifestantes pediam o fim do voto secreto parlamentar e a volta da Ficha Limpa em 2012.  Os estudantes,  entusiasmados com a  experiência, nova para a maioria deles, seguiram em frente após a dispersão e chegaram até o palácio, moradia do governador Jaques Wagner, onde cantaram e gritaram palavras de ordem sob os olhares tolerantes dos seguranças.
Banners, cartazes e muitas bandeiras na passeata que mostrou que, de fato, a paciência contra os escândalos de corrupção no país está no fim. Ninguém mais suporta.  A entidade mais forte que se fez presente foi a OAB. Nada mal para um movimento que, na Bahia, começou com manifestações de funcionários da Petrobrás, revoltados com o aparelhamento da empresa, que segundo eles substituiu técnicos experientes por “companheiros” que não entendem de nada. O aluguel do modesto carro de som foi rateado entre os organizadores da manifestação e custou R$ 3 mil. Alguns grupos mandaram confeccionar camisas e banners, mas o forte mesmo foi o improviso e muita vibração.
Desde ontem uma informação no Facebook  conclamava as pessoas para a caminhada que afirmava seria realizada às 10 horas. Uma tentativa pueril de sabotar o movimento? Se foi, não deu em nada. Quantas pessoas foram? Não sei calcular. Pensei em 600, mas houve quem dissesse que tinha mais de mil. Policiais Militares consultados disseram não ter condições de calcular.
Enfim, entre mortos e feridos salvaram-se todos. O pessoal do PT se preocupou à toa. A passeata foi pacífica, sem influência partidária. Não se  ofendeu nem se xingou ninguém ( ah, sim, na verdade sobrou para Sarney. Alguns estudantes entoaram o mesmo coro cantado contra ele no Rock in Rio). No mais, dá para apostar que o movimento está apenas no começo e que os nossos políticos não continuarão tendo o mole que tiveram até hoje. A sociedade está de olho e aprendendo a exigir os seus direitos. Palavrórios e demagogias correm o risco de cair no vazio. Tomara que seja assim.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Orquídeas no Palacete das Artes



O Palacete das Artes Rodin Bahia realiza, a partir de amanhã ( sexta-feira, 23.09.2011) às 10h, da III Mostra de Orquídeas de Salvador. Promovida pela O.B.A,  Orquidófilos Baianos Associados, a mostra que será encerrada neste domingo acontecerá diariamente das 11 às 18h com exposição de várias espécies da planta, como as exóticas cattleya, laelia, oncidium, dendrobium, vanda, ascocenda, e outras espécies nacionais e estrangeiras. Mudas de orquídeas serão vendidas no evento. Paralelamente à exposição, estão previstas oficinas de cultivo, com Roland Cooke, no sábado e domingo, às 11 horas; palestra de Cássio Wanderberg sobre “Biologia das Orquídeas”, às 16 horas do sábado; e palestra de Francisco Parente, com o tema “Noções de cultivo de orquídeas”, às 16 horas do domingo.
A mostra será palco também do lançamento da I Feira de Orquídeas e I Encontro de Orquidófilos na Chapada Diamantina que acontecerá em maio de 2012 na cidade de Lençóis, atraindo para a região colecionadores de várias regiões do Brasil e do mundo. Diretores da Ato Consultoria em Desenvolvimento Humano e Organizacional Ltda, organizadora do evento que terá a parceria do Sebrae, Senac, e Convention Bureau,  com o apoio da prefeitura municipal de Lençóis, estarão à disposição da imprensa às 11h desta sexta para falar sobre os objetivos e a importância do evento que deverá reunir cerca de três mil pessoas, entre curiosos, ,moradores da região, estudantes, botânicos e orquidófilos.
Largamente cultivadas no Brasil e no mundo, o comércio de orquídeas movimenta grandes somas de dinheiro todos os anos em um mercado crescente. No Brasil, grandes orquidários no Sudeste já produzem centenas de milhares de plantas por ano, que são exportadas para outros países ou vendidas até em supermercados. Apresentam muitíssimas e variadas formas, cores e tamanhos e existem em todos os continentes, exceto na Antártida, predominando nas áreas tropicais
O nome orquídea vem do grego όρχις (órkhis) que significa testículo e ειδος (eidos) que significa: aspecto, forma; em referência ao formato dos dois pequenos tubérculos que as espécies do gênero Orchis apresentam. Como este gênero foi o primeiro gênero de orquídeas a ser formalmente descrito, dele derivou o nome de toda a família.


quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Na boca do dragão

Me emociona o mar
e o gosto do seu sal
na minha língua.
A boca de dragão
que cresce sem cultivo,
o Hino Nacional.
O olhar de tristeza
de quem quer
que seja,
o riso desdentado,
da criança,

o andar arrastado
dos mais velhos.

Como uma gata na
coleira, eu me encolho 
aberta às sensações
alheias,
presa, de forma
irremediável,
a outros destinos
que também são meus
tal e qual o elo de
uma corrente
enferrujada
que range
o tempo todo.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Poema rôto

O homem dorme no barquinho.
Dia limpo
Como pode haver mal,
e dor debaixo do sol ?...
O mar está azul, faísca,
areia rosada, rochas com
musgos, pocinhas d´água.
Mergulho...
Um homem moreno passa e me olha
de alto a baixo.
Acompanho o olhar e
o devolvo irônica
debaixo de
minhas lentes escuras:
Não parece ( eu sei),
mas poderia ser sua mãe...
À frente, a praia da minha adolescência...
Lembranças de tardes ensolaradas
amigos , paqueras,
 frescobol,
e alguma  inconsequência,
como pular de um penhasco
sem saber nadar apenas por exibição...
Salva com o corpo arranhado,
alma ferida,
e ego arrasado
O penhasco ainda está lá,
coberto de verde: coqueiros,
mandacarus,e mal-me-queres.
De um lado o farol e o Cristo,
do outro o Morro da Sereia.
Passo no meio de um baba,
atrapalho o jogo e os meninos
me olham irritados.
"Desculpem, foi sem querer"...
Sim, eu sei que é um privilégio,
quem sabe uma graça,
poder estar
onde estou agora,
caminhando na praia,
banhada de sol,
em dia de semana.
A calma do mar se reflete
em mim.
Estranho a sensação de beatitude.
A felicidade dá medo, já sei. 
Olho para cima e peço ao velhinho de barbas brancas:
“Deus, por favor, tire esse sorriso bobo do meu rosto.”

Noite escura

O amor


é um pulo

no abismo

em noite

sem lua.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

O homem das unhas azuis

A resistência do meu chuveiro queimou e pedi ao porteiro que arranjasse um eletricista para trocá-la. Minutos depois, ele chega a minha casa com um homem baixo, atarracado, que trabalhava numa obra das imediações e que poderia me ajudar. Mandei entrar e ao observá-lo trocando a resistência, pensei: “Conheço esses pés de algum lugar”. Serviço terminado, ele não cobrou. E muito gentil, disse que o dinheiro não compra tudo; que eu desse o que eu quisesse. Dei R$10. Depois que ele saiu falei para minha diarista: “Esse homem tem os pés parecidos com os de um homem que eu vi outro dia num orelhão . Não reparei no rosto , mas vi que tinha as unhas pintadas de azul cintilante. O formato das unhas parece o mesmo.
Ela então comentou: “Deve ser ele mesmo, porque disse que meu esmalte era bonito (vermelho fulgurante), e que costumava pintar as unhas dos pés e das mãos.”
"Mas como pode ser", comentei perplexa. "Um homem tão rude, fisicamente grosseiro até , pintar as unhas dos pés ...
- Será que homossexual?
-Acho que gay ele não é não, respondeu ela. “Quando a senhora foi lá dentro, ele me ‘cantou’ e até roçou a mão na minha”.
Fiquei pensando na complexidade da natureza humana, das sensibilidades, da arte 9ele era pedreiro) e lembrei das palavras do meu amigo Tamas:” Até a lua tem o seu lado oculto”.
Como a lua é redonda, quantos lados será que tem ?

domingo, 31 de julho de 2011

Da série "Poemas fúteis e inúteis"

Bolerão


Cabeça no bolero,
eu amanheço pensando em ti,
eu adormeço pensando em ti.
Não me angustio,
e sigo
o dito popular:
" o que não tem remédio,
remediado está."

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Chico de Oliveira parodia Spielberg e diz que o Brasil está “De costas para o futuro”



O auditório da Reitoria da Universidade Federal Bahia ficou lotado na última sexta-feira (17.06) para ouvir a conferência de Francisco de Oliveira sobre “Política e Economia sob a Hegemonia às avessas” que encerrou o Encontro de São Lázaro, simpósio que comemorou os 70 anos da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas trazendo para Salvador conferencistas e professores de pesos da área. No Encontro, além da realização de 12 mini-cursos, 450 pesquisadores apresentaram durante o evento, que ia diariamente das 8h às 17h, trabalhos selecionados compondo um painel rico e diversificado. Após cada jornada, os estudantes, professores, pesquisadores ou simplesmente interessados em aprender um pouco mais, seguia para a reitoria onde as conferências tiveram lugar às18h30.

O sociólogo Francisco Maria Cavalcanti de Oliveira, mais conhecido como Chico de Oliveira, um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores, do alto dos seus quase 78 anos chegou avisando que estava ali para dar “cutucadas no poder”. Criticou a atual situação política brasileira, e, sem papas na língua, derrubou mitos e paradigmas. Deve ter sido um susto e tanto para alguns lulistas ouvi-lo dizer que o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva não passa de um personagem construído pela esquerda que através dele viveu a utopia de Marx. Lula na opinião de Francisco promoveu uma hegemonia às avessas, ao realizar o programa do seu adversário, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

A Bolsa Família, o auxilio aos bancos e outras realizações do governo passado foram algumas das farpas lançada por Oliveira comparando os trabalhadores atuais aos pobres da época de São Francisco (o santo). Todos os programas dos governos federal, estadual e municipal têm como alvo, segundo afirmou, não mais os trabalhadores, e sim os pobres. Não sustentam as classes sociais em suas reivindicações e tratam agora de fazer caridade seja a nível público ou privado. Já todas as grandes instituições capitalistas, continuou Chico Oliveira, têm algum tipo de programa de auxilio à pobreza. Para ele, não há nenhum movimento  na sociedade para enfrentar essa maré comandada pelo governo e tentar transformar de novo numa pauta final dos direitos dos oprimidos. Oliveira comparou os dias atuais brasileiros ao filme de Spielberg “De volta para o futuro”, parodiando o título para “De costas para o futuro”. Sem nenhum tipo de regularização, o trabalhador brasileiro vive hoje, na sua opinião, um paraíso ou pesadelo que nenhum pensador, por mais obsceno que fosse, tenha pensado. Fernando Henrique Cardoso também não ficou de fora das críticas de Chico, para quem o colega sociólogo de príncipe virou sapo. E como ele acha que Lula seguiu o programa do adversário dá para se deduzir a idéia que Oliveira faz de FHC.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Eu não quero ser estrela, eu quero ter amigos



No dia que me perdi no céu, estava escuro... Era verão, fim dos anos 70, eu  uma jovem, tirada,  como se diz agora, morava  no Rio. Viajei para Porto Seguro com um grupo de amigos. Viagem em fusquinha, e acampamento no quintal de uma amiga. Praia, sol e pouca roupa. A ida para o Arraial da Ajuda e a idéia maluca de alguém de irmos pela praia andando pra Trancoso.  Treze quilômetros de caminhada. A praia limpa e vazia, topless e banhos de mar. As falésias, o sol, o mar azul. Enfim Trancoso. Bonitinha. Passeios, mais banhos de mar, comida caseira. A busca por um carro para voltar. Não tinha carro, não tinha estrada.Volta pela praia. Enquanto eu ansiava pela caminhada, meus amigos se divertiam em fim de tarde, numa lagoa cercada por mosquitos. Odeio mosquitos porque eles me adoram. Resolvi ir na frente. Sozinha. A noite me pegou no caminho. Pura escuridão. Nem luz, nem gente, nem nada. Só eu, areia, estrelas. Resolvi parar e esperar os outros, quieta, arrependida. Maldita idéia.
Deitei na areia e, de repente, o céu explodiu na minha frente. Eu era parte dos cosmos. Não havia luz, só a lua, as estrelas e eu. Eu não era mais eu, não era nada. Era alguma coisa solta no espaço. Fechei os olhos para não ver mas, de olhos fechados, eu era escuridão sem estrelas. O som, do silencio ressoava em meus ouvidos, e eu já estava quase em pânico, quando ouvi as vozes alegres dos meus amigos que se aproximavam, me chamando, me salvando.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Minha amiga Lady Kate





Minha amiga Lady Kate, esqueceu sua afinidade com a realeza britânica e com a sua xará duquesa hoje à tarde e rodou a baiana com todas as letras. Professora estressada, ganhando mixaria, com alunos despreparados e sem perspectivas de melhoras, ela não anda lá com muita paciência. Sem carro próprio, a coitada é mais uma vítima dos transportes coletivos de Salvador e hoje a situação mostrou como os passageiros dos transportes coletivos são tratados em Salvador.
 Lady Kate pegou um ônibus em Nazaré com destino à Piedade. Logo ao confirmar o roteiro soube que o ônibus não iria passar por lá e pediu para o cobrador mandar abrir a porta. Ele começou a reclamar que todos os ônibus da empresa passavam na Piedade menos aquele. E  disse que não iria ficar avisando ninguém disso.
Por fim, ficou batendo com uma moeda no metal para que o motorista abrisse a porta.
Lady Kate esperava educadamente impávida, segundo conta, enquanto o chofer fazia ouvidos moucos e passava pelos pontos sem parar para abrir a porta para que ela saltasse. Irritada, começou a falar mal o motorista em voz baixa, alta o suficiente apenas para que o cobrador e os passageiros mais próximos, perplexos, pudessem ouvir. “Era melhor do que ter um enfarto de raiva, companheira” (Kate é fundadora de um certo partido que antigamente pregava a , no tempo em que a palavra companheira tinha um significado de  ideal e ética. Apesar do termo estar comprometido, hoje em dia, ela continua usando).  “Bota no jornal companheira (de novo).
“O imbecil tinha obrigação de parar o veiculo para que eu saltasse, mas que nada. Só parou no Aquidabã. Ele estava me sacaneando sem o menor respeito. Xinguei de canalha, filho da p, prá baixo.Mas com toda classe. Quando desci, o cobrador começou a falar dichotes da janela tipo “toma ônibus errado e ainda bota banca e coisas assim.”. Me retei. A raiva subiu à minha cabeça. Por alguns instantes imaginei se um aluno me visse, se meu namorado soubesse, mas, com muita classe, e com muito orgulho levantei minha mão direita e  mostrei a ele o meu dedo médio”. “Dinheiro eu não tenho, mas tenho glamour”, brincou.

Obs: Lady Kate pediu para que eu não esquecesse de botar que o ônibus, com destino à Pituba, era da Empresa União, número 0412. 
  

domingo, 22 de maio de 2011

A Bela Abandonada

Hoje, ao voltar da minha caminhada dominical me senti tentada a imitar crianças que se balançavam na gangorra de um canteiro na Garibaldi. Vontade reprimida, pois não tenho mais 12 anos-felizmente ou infelizmente ou ambos- idade limite para que se possa usar o equipamento nos parques públicos. Imaginei um guarda chegando para mim e dizendo : “a senhora não tem mais idade para usar uma gangorra” e desisti. Embora costume dizer que não tenho medo do ridículo, tudo tem limites.
Retomei minha caminhada e comecei a subida para a Cardeal quando quase me bato com um maluco-mendigo, sujo, descalço e fedido, com uma cara meio animalesca e  me desvio enquanto ele me chama “minha senhora, minha senhora” e depois de “Rute, Rute”. Aumento o passo pensando que se ele vier atrás de mim estou frita. Não conseguiria subir a ladeira correndo. Aliás, a essa altura, nem uma rampa.
Ele segue seu caminho, e  eu o meu pensando nos nomes que alguns doentes mentais guardam e que estão sempre emergindo de suas memórias. O que significam esses nomes para elas, o que essas pessoas representaram em suas vidas, e, até se essas pessoas existem. Lembro-me da mulher no ponto de ônibus que agarrava as passantes e lhes perguntavam: “você é Marianne?”, e pedia “não me abandone, Marianne”.
A caminhada foi boa, embora me irrite sempre com o abandono que vejo na cidade: Do Rio Vermelho à Ondina e à Av. Garibaldi, poças de água suja, muito buraco nas calçadas, jardins sem manutenção e cheios de mato. Salvador é a bela abandonada.
Hulk faz revisão do meu texto
Na praia do Escorre Sangue, perto da Pedra da Sereia, o futebol domingueiro com dois times, devidamente paramentados, disputam partidas enquanto a torcida se comprime na amurada com um fervor digno dos estádios. Isso acontece quase todos os domingos e eu adoro ver. Dois times jogam, enquanto outros dois se preparam. Os jogadores se abraçam em círculo e gritam palavras de ordem. Acho isso tão legal. Esse levar a sério, essa dedicação a um entretenimento. Estão aguerridos, prontos para o jogo. Talvez esses atletas de fim de semana se dêem muito mais à partida e se divirtam também muito mais que aqueles que nadam em rios de dinheiro.E como acho que não há dinheiro que pague uma boa diversão, me alegro que estejam vivendo momentos  felizes.
A bela abandonada merece mais cuidados e seus habitantes também.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Filhos de Filó e Sofia e a quem interessar possa

Salvador, 19.05.2011
 



“A Virada Lingüística da Filosofia Contemporânea”


Os Filhos de Filó e Sofia era um bloco de carnaval dos alunos da Faculdade de Filosofia da UFBa que saía às ruas de Salvador anos atrás. Usei o título apenas para chamar a atenção de vocês. Quem gosta de filosofia tem a oportunidade de participar do III Simpósio de Filosofia que será realizado nos dias 26 e 27 próximos pela Faculdade São Bento da Bahia. Para abrir o evento, cujo tema é “A Virada Lingüística da Filosofia Contemporânea”, o convidado é o professor doutor Manfredo Oliveira da Universidade Federal do Ceará, autor de 20 livros sobre temas filosóficos. São dele, por exemplo, os livros Reviravolta-linguistico pragmática na filosofia contemporânea e Ética, Direito e Democracia. Outro convidado do simpósio é  João Carlos Salles, professor do Departamento de Filosofia da UFBA autor dos livros “A Gramática das Cores em Wittgenstein” e “O Retrato do Vermelho e outros ensaios”.
O Simpósio será realizado nos dois turnos: pela manhã, das 8h30 às 12h, no Centro Cultural da Câmara de Vereadores de Salvador, que fica no prédio anexo à prefeitura, e à tarde nas dependências da Faculdade. 
No dia 26, às 9h, Manfredo Oliveira abre o evento com palestra seguida de debates. À tarde, serão realizados os mini-cursos  A ética do discurso pelo prof. Daniel Lins (São Bento); Oficina Deleuziana do Pensamento – pelo prof. Paulo Vasconcelos (São Bento); e Do "isto é" ao "eu sou"- Considerações para uma Antropologia Metafísica pelo prof. José de Maria (São Bento) .
No dia 27, às 8h30, a palestra será realizada pelo professor João Carlos  seguida por debate e pela apresentação de uma mesa-redonda, tendo como debatedores os professores Haroldo Cajazeira (São Bento), Luciano Santos(Uneb) e Wagner Oliveira (UFBA)com a apresentação de mini-cursos. À tarde terão prosseguimento os mini-cursos e as Comunicações. A inscrição custa R$ 35 e poderá ser realizada na faculdade ou na abertura do evento. Mais informações pelo telefone 3322.4746 ou através do site www.saobento.org
.






terça-feira, 3 de maio de 2011

De ônibus, a gente vê é coisa...

Estou andando de ônibus por causa da tal síndrome do túnel do carpo (DORT) nas duas mãos..Se o sistema daqui de Salvador não fosse essa m.... dava até pra curtir. Acontece muita coisa interessante.
Na ida, no ponto de ônibus havia uma deficiente mental (a vero) de macacão de florzinha e os seios quase de fora. Devia ter uns 30 e alguns anos. Ou menos. Percebi o olhar demente e passei ao largo, enquanto ela agarrava o braço de uma moça e pedia para ela não abandoná-la. "Não sou Mariane", dizia a moça que veio ficar perto de mim.
A mulher veio também e parou na minha frente, e ficou parada. Perguntou se eu era Marianne.Eu disse que não e comecei a conversar com ela que só falava frases desconexas. Perguntei onde morava e ela conseguiu dizer Periperi. Perguntou se eu era mãe dela, eu disse que não...
A impressão que dava era que alguém a colocou num carro ou ônibus e a abandonou lá.Pode ser fantasia minha, mas depois que o sistema criou os Caps para obrigar familias de doentes mentais a cuidarem deles (sem condição financeira ou técnica para isso) e acabou com os sanatórios, naquelas brilhantes ideias que só prestam na teoria, tudo é possível. Ela disse que estava com fome e eu a encaminhei para uma padaria...Quase que eu largo ela na frente da Itapoan, no programa de Varela.
Na volta, três adolescentes, com idade em torno de 17 anos, fardados, falavam alto, e naturalmente, sobre os roubos cometidos por um amigo e por eles também nos supermercados.Geralmente de sandálias, camisinhas, e chocolates numa prática que aparentemente era frequente. Falavam também nas vezes em que foram parados pela policia e tudo isso num tom de vantagem. Fiquei chocada com a naturalidade deles e depois de muito tentar me controlar bati meu leque num deles(sim,eu estava de leque; não posso andar com um ar condicionado na cabeça) .
"Olha, vs ficam fazendo besteira depois tomam um tiro e deixam a mãe chorando. Dentro de algum tempo- continuei- no Brasil só vai ter velho porque os meninos da idade de vs estão todos morrendo". Eles me olharam com cara de poucos amigos, mas eu acho que o sermão de alguma maneira os impressionou porque  começaram a repetir que só iam morrer quando "Deus quisesse"...
Embora fossem meninos de bairros pobres eles estudavam e certamente tinham família. Mas, roubar ,parecia ser a coisa mais natural do mundo...
Que triste.

sábado, 16 de abril de 2011

Rio e sensações

 
Depois de assistir o filme "Tio Boonmee que pode recordar suas vidas passadas", e sair revoltada por ter jogado R$ 8 fora (Sou casquinha mesmo e esse é um dos motivos pelos quais adoro Fernando Henrique) foi bom voltar ao Glauber Rocha para ver "Rio".

Que tio que nada...Filme chato, lento, imagens nubladas  (espero não estar com o mesmo problema da minha amiga Mariinha que passou um ano sem enxergar direito, pensando que era lente de contato e era catarata) e uma história que se prestava a várias interpretações, nenhuma interessante.

Mas, Rio conta uma historinha que além de ser educativa -fala do tráfico de aves- faz a alegria de pessoas sensoriais como eu. Muitas cores, muitas flores, vegetação exuberante e o Rio em toda a sua magnitude. Sérgio Mendes canta um dos temas do filme, que tem várias músicas brasileiras, e tem inclusive o funk - que não sei se é brasileiro, mas tenho certeza de que não é música.

Muito azul, inclusive o das ararinhas, e personagens encantadores como a garota que criou a arara macho e a sua alma gêmea, o ornitólogo brasileiro, dão suavidade e um romantismo à fita.

A parte do carnaval, no Sambódromo, é bem legal e a subida do bondinho para Santa Teresa cheia de ipês cor de rosa, ou acácias, ou cerejeiras cor de rosa (não deu para distinguir) é lindinha, lindinha....

Enfim, sem dúvida mais do que uma histórinha ecologicamente correta, Rio é uma apologia à Cidade Maravilhosa, e eu diria que, se por acaso tivesse tido um empurrãozinho do nosso Ministerio do Exterior, eles "mandaram" bem. E que se não teve a tal mãozinha, tivemos sorte. O filme é uma ótima propaganda para a cidade, apesar dos macaquinhos ladrões que roubam turistas e que deixam a platéia um tanto quando constrangida.

Acho que vou vê-lo novamente. Talvez até o compre para quando estiver com insônia. Boto meu Chopin (meu não, de George Sand )tiro o som do filme e fico com as imagens. Beleza pura, diria Caetano.

domingo, 10 de abril de 2011

Uma chance para todos



A atitude política da Secretaria de Segurança Pública ao ocupar alguns dos principais redutos do tráfico de drogas em Salvador, nesta última semana,  deu esperanças ao  soteropolitano estressado, e humilhado, pelos constantes roubos, assaltos e homicídios na cidade. A maior parte dos crimes está relacionado ao consumo e à comercialização de drogas, conforme dados da própria polícia. A exemplo de outros estados como o Rio de Janeiro e Pernambuco,  o governo baiano está dando início a um programa que visa implantar Bases Comunitárias nas comunidades mais sofridas, que funcionarão com parcerias entre os órgãos públicos e visa elevar a auto-estima dos moradores locais, reconhecendo o que lhes é de direito, assim como tem direito à segurança e infra-estrutura  toda a população da cidade, do estado e do país .
O primeiro passo começa no Calabar, favela ( invasão aqui na Bahia) que fica entre bairros de classe média da cidade  e onde a população até então vivia refém do narcotráfico e de todas as suas implicações: agenciamento de menores e homicídios  causados por rivalidades,  brigas por pontos de venda, e disputa de poder, entre outros problemas.
O secretário de Segurança Pública, Mauricio Barbosa, diz que o Calabar é apenas um pequeno laboratório para que o Estado possa se instalar em áreas maiores da cidade, como o Nordeste de Amaralina e suas adjacências, que vinham sendo dominadas, já há algum tempo, pelo tráfico.
As ações fazem parte do programa Pacto pela Vida cujo objetivo é a redução de homicídios. O Pacto prevê câmaras setoriais com vistas a desenvolver políticas públicas como as de Segurança , Defesa Social, Enfrentamento ao crack, e atuação do Ministério Público e Poder Judiciária. Nesta quarta-feira, o programa recebeu o apoio da prefeitura municipal que se colocou à disposição do projeto, comprometendo-se a reforçar nesses locais os serviços de iluminação, pavimentação, saúde, educação, limpeza e a requalificar áreas de lazer. Essa parceria é um tanto quanto duvidosa, uma vez que todo mundo sabe da crise financeira pela qual a prefeitura está passando, tanto que vem tomando medidas com o objetivo de conter os gastos e que incluem, entre outras coisas, a limitação do atendimento ao público que passará a ser de 8 às 14 h e a redução da jornada de trabalho dos servidores que passará a ser de 30 horas semanais. A parceria em questão é mais um problema a ser superado.
Porém,  se ampliarmos o ângulo ao observar os acontecimentos podemos pensar também sobre o que deverá acontecer com os jovens, que até agora não têm tido outra perspectiva de vida a não ser a de entrar para o tráfico de drogas, matar,  ser preso, e só sair dessa  vida quando for encontrado morto numa vala qualquer ou enterrado  num caixão barato.
Os jovens bandidos que vivem nessa comunidades, não podemos esquecer,  são filhos, irmãos, parentes, vizinhos  e,  às vezes, até amigos de uns e de outros que não compartilham com o seu modo de viver.   
Será que essas pessoas não merecem uma segunda chance ? Ou melhor, uma primeira chance, já que ao que tudo indica nunca tiveram oportunidade de fazer diferente? Leio nos jornais o lamento de pais que se culpam por não terem tido força para tirar o filho das drogas-seja como traficante ou como usuário. Muitos dessas pessoas, até querem deixar esse tipo de vida,  mas não têm como. Acabam procurando  a única alternativa que costuma lhes ser dada e que vem através das igrejas evangélicas. Mas, apoio moral  e religioso não é suficiente para que isso se concretize com aqueles que já estão por demais envolvidos na criminalidade. O Estado não pode desistir dessas pessoas.
Que solução seria essa de apenas prender ou matar bandidos? Evidentemente, que  aqueles que infringem a lei devem pagar por isso. Mas, é preciso que o Estado possa ampará-los e lhes dar uma chance de se integrarem à sociedade ( não digo se reintegrarem, porque possivelmente a integração nunca aconteceu). É um assunto a ser pensado e levado a sério. Não  se pode jogar o lixo debaixo do tapete. Não se pode descartar vidas tão jovens e que mereceriam ter as mesmas oportunidades de todos aqueles que aqui nascem ou vivem. Diz o ditado diz que é melhor prevenir que remediar.  Não houve a prevenção. Deve-se partir, então, para a recuperação que será mais trabalhosa, mais dispendiosa e mais difícil, mas que precisa e deve ser feito.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Mulher sofre !!!

Começo de ano, hora dos check-ups. Mastologista, ginecologista,endocrinologista, clinico, dermatologista, psiquiatra, dentista, enfim o raio X anual para garantir que tudo está em ordem e que, se a natureza seguir o seu curso, terei ainda um bom tempo para reclamar de tudo e de todos nos meus dias de mau humor.


O mastologista  é novo. Troquei antes que acabasse trocando tapas com o antigo, um sujeito meio rude e sem delicadeza. Na hora de puncionar cistos, ele agia como se tivesse agulhando um animal de corte. Eu reclamava, está doendo, ele se irritava. Trocávamos palavras duras e irritadas.  Um dia me retei: “Pode parar doutor. Está doendo muito e não vou mais fazer punção nenhuma com o senhor” e fui me embora.
Esse novo médico é jovem e se esforça para ser simpático. Parece ter se formado há pouco tempo. Gentil, pisa em ovos. Huuum, não gostei. Ele fala comigo no diminutivo como se eu fosse uma menina-e retardada ainda por cima. Faz as perguntas de praxe que respondo objetivamente. Me calo e ele pergunta: “ A senhora tem mais alguma coisa para me dizer”? Olho pra ele e digo que não. Tenho vontade de fazer outra pergunta idiota. “Tipo o que, cara pálida? O senhor quer que eu dê meu próprio diagnóstico?Vou chutar: dois cistos em cada seio.”
Durante o exame, ao lado da atendente, ele pede desculpas por um toque mais duro e me trata com um adjetivo afetuoso. “Não vou aguentar isso”. “Meu Deus, preciso dizer a ele que não gosto de ser tratada como uma filhinha e que detesto essas pseudo- intimidades. Aliás, não gosto de intimidade com médicos. Não converso,não bato papo, e não falo nada que não esteja relacionado com a consulta. Vou dizer :”Dr, por favor,me chame pelo meu nome, nada de minha flor, nem de minha querida. Senhora está bom.” Desconfio que sou a primeira paciente do dia e que ele está querendo formar sua clientela. Desse jeito vai ser difícil.Fico dividida: Falo ou não falo pra ele que não deve tratar as clientes como se fossem crianças , alguém da família, uma mãe, uma tia, uma priminha?.... Não, deixa prá lá. Quem sabe na próxima consulta, quando eu levar meus exames, lhe diga: Doutor, me desculpe, mas eu preciso lhe dizer uma coisa. Não trate suas pacientes como se estivesse falando com menininhas. É chato.Tem quem não goste, eu não gosto. Limite-se às palavras educadas de praxe....

É que minha Perséfone- isto eu não vou dizer- odeia ser tratada como tal.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Sol e ócio improdutivo

Quarta de sol, céu azul, praia limpa, água morna.
Alguns desocupados se estendem na areia, eu, entre eles.
Mergulho e bóio de olhos abertos, a sensação é de quase felicidade.
Uma onda de uns 50 cms me pega e eu saio embolando até a areia.
A água entra pelas minhas narinas, sufoco, meus olhos ardem. O jorro podia seguir mais adiante via nasal, supra-orbital, parietal, temporal, frontal e lavar meu cérebro, hardware de uma mente cheia de incertezas e  medos....
E essa tal da frente fria, por onde será que anda?

quarta-feira, 9 de março de 2011

A fala dos imbecis

Márcio Vítor, vocalista do Psirico, foi alvo de preconceito durante o carnaval por parte de um suposto empresário, no Camarote do Reino, que o chamou de “preto, favelado e gay”. Os jornais que tocaram no assunto não disseram em que contexto isso se deu, nem o nome do sujeito.
Penso que Márcio perdeu uma boa oportunidade de colocar o tema em uma boa discussão. Ele poderia ter dado queixa, ou mesmo debatido com o imbecil cujo nome desconhecemos até este momento. Na minha opinião, Márcio Vítor foi alvo de preconceito, mas a vítima mesmo é o tal empresário, já que preconceito é sinal de ignorância, falta de instrução e mais do que isso: de burrice. A vítima de preconceito é o “empresário”. Preconceito é doença. Ele deveria se tratar.
O sujeito ignóbil -adoro essa palavra- poderia se “ tratar” na cadeia, já que o crime resultante de preconceito de raça ou de cor, estabelece conforme a Lei 9.459 de 15/05/19977, artigo 20, a pena de reclusão de um a três anos e multa por “praticar, induzir ou incitar a discriminação por preconceito de raça, cor etnia, religião ou procedência nacional”.
A questão não é ser chamado de preto – branco ou amarelo- é a conotação pejorativa que se dá à cor. Tampouco de pobre e favelado, já que a desigualdade é estrutural neste país, onde segundo dados do IPEA- Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada os 10% mais ricos ganham 28 vezes a renda dos 40% mais pobres....Ser pobre ou morar em favela não é característica de raça ou cor. É uma conseqüência do período escravocrata quando pessoas do continente africano eram retiradas de sua terra e trazidas para o Brasil para trabalhar na agricultura, mineração e até mesmo nas casas dos senhores. A abolição da escravatura tirou dessas pessoas o estigma de ter um “dono”, mas por outro lado deixou-as sem condição de sobrevivência. De escravos se transformaram em párias. Deixaram de ter uma casa e um dono que as alimentasse e provesse como antes, para melhor explorar o seu trabalho, e foram jogadas às ruas sem nenhum aparelhamento ou resguarda que lhes possibilitasse sobreviver com dignidade.
Para mim, ao ser chamada de preta, a pessoa deveria saber que é um forte e se orgulhar disso. Sobreviveu às intempéries, às injustiças sociais, aos preconceitos, está viva e luta. Se o preto conseguiu ascender na escala social, independentemente de todas as forças em contrário, é um bravo. Se fez sozinho, como se dizia antigamente, já que a política de ações afirmativas no Brasil é recente e seus resultados, certamente, só vão ser percebidos daqui a alguns anos.
Gay, é preferência sexual e diz respeito a cada um. O gay “ofende” mais (sem o querer, obviamente) a quem o teme de alguma maneira, principalmente se esse alguém tem um desejo sexual incumbado que vem à tona quando vê o seu reflexo. Assumir a homossexualidade não é para qualquer um. É prova de coragem e de auto- respeito.
Então, qual o problema em Márcio Vítor ser preto ou gay? Isso não é desabonador. Ser favelado, muito menos. Se ele o foi, conseguiu sair da favela à custa do seu talento- como os demais negros que ascendem socialmente e que o conseguem seja pela arte, pela ciência, sempre pelo trabalho duro.
Desabonador para mim é ser preconceituoso como o empresário (dizem que ele é de Inhambupe; com certeza tem o pé na senzala, do que não deveria se envergonhar ), é roubar,matar, mandar matar,estuprar, subornar, ser um parasita social,corromper,ser corrompido, se atribuir um aumento de 61% em um já salário alto quando o trabalhador não consegue sequer um aumento real maior do que R$ 5. E por aí vai.... Essas coisas, sim, são para se ter vergonha. Insultar, como o tal empresário pretendeu fazer com Márcio Vítor não é vergonhoso para o cantor. Ao contrário, me lembra da resposta que a gente dava, quando criança, a quem de alguma maneira nos ofendia: “a careta fica na cara de quem faz”. E é na cara de quem faz que realmente deve ficar.

Falar nisso, alguém sabe qual o nome do asno?

sexta-feira, 4 de março de 2011

País Elétrico.....

Um povo inteiro e uma semana de pernas pro ar.
Quem quiser brincar o carnaval brinca, quem quiser descansar, descansa...
A maioria curte e se diverte.
O carnaval brasileiro é mesmo uma situação especial. Festa,muita festa. E Viva Dionísio.
Com  um pouco mais de igualdade social, compromisso com o país e respeito aos cidadãos poderíamos nos chamar Utopia

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Filha, eu quero morrer....

Mãeeeeeeeeeeee, eu quero morrer.......Mainha, eu querooooo morrer. O pedido angustiado de uma moça com deficiência física e aparentemente com deficiência mental tinha o peso de uma toalha molhada, batendo nos pacientes que esperavam o atendimento no consultório médico. A mãe, constrangida, pedia: “Cale a boca, fulana, você esta deixando as pessoas constrangidas...Fulana continuava, mãe eu quero morrer, eu quero morrer.....


A mãe explica que a filha tem 37 anos ( não parece) e que tem paralisia cerebral desde que nasceu. A ladainha recomeça e algumas pessoas se mostram claramente incomodadas para desespero da mãe. Uma mulher tenta tranqüilizá-la e pede que ela não se preocupe. O pior que pode acontecer, diz, é todo mundo que está no consultório começar a fazer coro com a moça que quer morrer. Todos riem. Uma mulher se retira e uma outra confessa: “Já pedi isso muitas vezes”. A moça pede de novo que a mãe a ajude a morrer. A mãe tenta acalmá-la: “ Deixe pra amanhã, senão você não vai poder falar com sicrana”, a irmã que chega de viagem. A moça se cala por alguns momentos, ela quer ver a irmã que vai chegar, mas logo se esquece e pede de novo para morrer à mãe torturada. “Compre um caixão pra mim”... Alguém tenta distraí-la: “Qual a cor que você quer para o seu caixão?” Ela responde “Marrom”. “Marrom é uma cor muito feia. Por que não rosa”? A moça não responde e recomeça. A mãe conta que houve uma época em que ela achava estar grávida. Era dia e noite falando da gravidez e do bebê. O problema foi resolvido pela empregada da casa. Comprou uma boneca e deu pra ela que a chamava de filha. Com o tempo, o anseio de maternidade foi passando. A vontade de morrer perdura. A mãe diz que quem se suicida vai para as trevas. A moça agora diz “Mãe eu vou para as trevas, eu quero morrer mãe”....

A situação vai ficando cada vez mais tensa. O médico pergunta se as pessoas que chegaram antes se importam de que a moça passe na frente delas. Todos concordam. A moça entra. As pessoas pensam na mulher e nos seus 37 anos de sofrimento e no que ela, provavelmente, diria se pudesse: “Filha, eu quero morrer, filha.............

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Última viagem

Um morador de rua se jogou hoje pela manhã do Elevador Lacerda. Os comerciantes da área dizem que era um usuário de crack. Já tava morto, o coitado, como as dezenas de sombras que perambulam pela área. Embora já não se perceba, usuário de crack também é gente.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Sobre Gal e a preguiça

"Gal Costa criou polêmica ao chamar o baiano de preguiçoso. Muita gente se ofendeu. Eu, não. Fico é orgulhoso, porque a recorrente crítica ao nosso comportamento, no mais das vezes, traduz uma grande inveja pelo nosso saudável laissez faire, pela nossa radical vontade de curtir a vida. Deixem que os paulistas se matem de trabalhar, ignoremos a faina ininterrupta de outros povos nacionais, pois nossa cara é esta mesmo: trabalhar o suficiente para ter grana e tempo a fim de curtir praias,cervejinha gelada e muita música. Para quê melhor, gente?"

texto é do jornalista Alexandre Ferraz e saiu publicado na coluna Em Tempo, de hoje, no jornal Tribuna da Bahia. Concordo com Alex em verso e prosa. Além disso, Gal foi muito radical: quem é que pode trabalhar com dor de cabeça?

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Mais um ano ao Bonfim



Salvador hoje foi, de fato, como acontece todos os anos, duas cidades: a Alta e a Baixa. Na Alta, um dia como outro qualquer, bancos, comércio, escritórios, bares, restaurantes, tudo funcionando normalmente, embora se percebesse um movimento menor no trânsito e nos estabelecimentos comerciais.
Como em todos os anos, desde 1754, se não estou enganada, a festa é realizada na segunda quinta-feira de janeiro, para a lavagem da escadaria e do adro da igreja. O motivo era preparar o templo para o encerramento da novena em louvor ao senhor do Bonfim, que termina no segundo domingo depois da festa de Reis. A origem  vem do tempo da escravidão, quando os senhores mandavam lavar a igreja para o fim da novena. É  minha festa popular preferida. É evidente que não sigo mais o cortejo pelos oito quilômetros que vão da Igreja da Conceição até a colina do Bonfim... A ida é divertida, o pior é voltar .
No bairro, ninguém marca compromisso para o dia da Lavagem. Muita gente não vai trabalhar. Não porque não queira, mas porque não tem como sair de casa. O  transporte coletivo não funciona e a circulação de veículos é proibida.  A disputa pelos táxis - que ficam nas imediações e  que acabam dando uma boa volta pela cidade – pode acabar em tapas.... Mas, hoje, até onde eu vi, a polícia não teve trabalho. Os policiais estavam mais para platéia, plácidos, observando os festejos sem nenhum traço de tensão. Não vi briga ou sequer um gesto de grosseria.
Um  bon vivant amigo que participa da festa, e avisa descaradamente no escritório  onde trabalha – ele é arquiteto-  que não vai trabalhar porque a festa é uma tradição, particular sua de mais de 30 anos,  explica que o trabalho da polícia costuma começar depois da 17h, quando as pessoas iniciam o retorno e alguma delas –quase todas na verdade-  já beberam mais do que deviam.
Um amigo e uma irmã do meu filho, por parte de pai óbvio, que não moram em Salvador e que me acompanhavam, ficaram decepcionados por não terem visto a saída do santo. “Que santo, minha gente? Essa é uma festa profana. Não tem santo nenhum. Na Lavagem do Bonfim, o cortejo é a festa”, ensinei.
A Lavagem, ao meu ver, é a festa popular mais eclética da Bahia. Até mais do que o Carnaval. Não há divisão de classe social, gênero, ou idade. As pessoas se misturam, quase sempre vestidas de branco, para seguir o cortejo, ou simplesmente se espalham pelos oito quilômetros do trajeto para assistir o cdesfile e dançar ao som de charangas ou fanfarras. No sincretismo religioso o Senhor do Bonfim é associado a Oxalá, o orixá que representa a paz, daí a preferência pela cor branca.
As figuras que participam da festa são de uma criatividade e de uma riqueza cultural- e por que não espiritual?- inesgotáveis. Se fantasiam de caretas, mascarados, escafandristas, enfim do que der na cabeça. A grande maioria prefere a roupa branca tradicional, mas as fantasias são muito engraçadas. É uma festa alegre e divertida.
Na volta para casa encontro uma velha amiga e ela me diz: “Estou com as pernas doendo, sensação de dever cumprido e a alma leve.” Respondo: “Eu também”