Começo de ano, hora dos check-ups. Mastologista, ginecologista,endocrinologista, clinico, dermatologista, psiquiatra, dentista, enfim o raio X anual para garantir que tudo está em ordem e que, se a natureza seguir o seu curso, terei ainda um bom tempo para reclamar de tudo e de todos nos meus dias de mau humor.
O mastologista é novo. Troquei antes que acabasse trocando tapas com o antigo, um sujeito meio rude e sem delicadeza. Na hora de puncionar cistos, ele agia como se tivesse agulhando um animal de corte. Eu reclamava, está doendo, ele se irritava. Trocávamos palavras duras e irritadas. Um dia me retei: “Pode parar doutor. Está doendo muito e não vou mais fazer punção nenhuma com o senhor” e fui me embora.
Esse novo médico é jovem e se esforça para ser simpático. Parece ter se formado há pouco tempo. Gentil, pisa em ovos. Huuum, não gostei. Ele fala comigo no diminutivo como se eu fosse uma menina-e retardada ainda por cima. Faz as perguntas de praxe que respondo objetivamente. Me calo e ele pergunta: “ A senhora tem mais alguma coisa para me dizer”? Olho pra ele e digo que não. Tenho vontade de fazer outra pergunta idiota. “Tipo o que, cara pálida? O senhor quer que eu dê meu próprio diagnóstico?Vou chutar: dois cistos em cada seio.”
Durante o exame, ao lado da atendente, ele pede desculpas por um toque mais duro e me trata com um adjetivo afetuoso. “Não vou aguentar isso”. “Meu Deus, preciso dizer a ele que não gosto de ser tratada como uma filhinha e que detesto essas pseudo- intimidades. Aliás, não gosto de intimidade com médicos. Não converso,não bato papo, e não falo nada que não esteja relacionado com a consulta. Vou dizer :”Dr, por favor,me chame pelo meu nome, nada de minha flor, nem de minha querida. Senhora está bom.” Desconfio que sou a primeira paciente do dia e que ele está querendo formar sua clientela. Desse jeito vai ser difícil.Fico dividida: Falo ou não falo pra ele que não deve tratar as clientes como se fossem crianças , alguém da família, uma mãe, uma tia, uma priminha?.... Não, deixa prá lá. Quem sabe na próxima consulta, quando eu levar meus exames, lhe diga: Doutor, me desculpe, mas eu preciso lhe dizer uma coisa. Não trate suas pacientes como se estivesse falando com menininhas. É chato.Tem quem não goste, eu não gosto. Limite-se às palavras educadas de praxe....
É que minha Perséfone- isto eu não vou dizer- odeia ser tratada como tal.
quarta-feira, 23 de março de 2011
quarta-feira, 16 de março de 2011
Sol e ócio improdutivo
Quarta de sol, céu azul, praia limpa, água morna.
Alguns desocupados se estendem na areia, eu, entre eles.
Mergulho e bóio de olhos abertos, a sensação é de quase felicidade.
Uma onda de uns 50 cms me pega e eu saio embolando até a areia.
A água entra pelas minhas narinas, sufoco, meus olhos ardem. O jorro podia seguir mais adiante via nasal, supra-orbital, parietal, temporal, frontal e lavar meu cérebro, hardware de uma mente cheia de incertezas e medos....
E essa tal da frente fria, por onde será que anda?
quarta-feira, 9 de março de 2011
A fala dos imbecis
Márcio Vítor, vocalista do Psirico, foi alvo de preconceito durante o carnaval por parte de um suposto empresário, no Camarote do Reino, que o chamou de “preto, favelado e gay”. Os jornais que tocaram no assunto não disseram em que contexto isso se deu, nem o nome do sujeito.
Penso que Márcio perdeu uma boa oportunidade de colocar o tema em uma boa discussão. Ele poderia ter dado queixa, ou mesmo debatido com o imbecil cujo nome desconhecemos até este momento. Na minha opinião, Márcio Vítor foi alvo de preconceito, mas a vítima mesmo é o tal empresário, já que preconceito é sinal de ignorância, falta de instrução e mais do que isso: de burrice. A vítima de preconceito é o “empresário”. Preconceito é doença. Ele deveria se tratar.
O sujeito ignóbil -adoro essa palavra- poderia se “ tratar” na cadeia, já que o crime resultante de preconceito de raça ou de cor, estabelece conforme a Lei 9.459 de 15/05/19977, artigo 20, a pena de reclusão de um a três anos e multa por “praticar, induzir ou incitar a discriminação por preconceito de raça, cor etnia, religião ou procedência nacional”.
A questão não é ser chamado de preto – branco ou amarelo- é a conotação pejorativa que se dá à cor. Tampouco de pobre e favelado, já que a desigualdade é estrutural neste país, onde segundo dados do IPEA- Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada os 10% mais ricos ganham 28 vezes a renda dos 40% mais pobres....Ser pobre ou morar em favela não é característica de raça ou cor. É uma conseqüência do período escravocrata quando pessoas do continente africano eram retiradas de sua terra e trazidas para o Brasil para trabalhar na agricultura, mineração e até mesmo nas casas dos senhores. A abolição da escravatura tirou dessas pessoas o estigma de ter um “dono”, mas por outro lado deixou-as sem condição de sobrevivência. De escravos se transformaram em párias. Deixaram de ter uma casa e um dono que as alimentasse e provesse como antes, para melhor explorar o seu trabalho, e foram jogadas às ruas sem nenhum aparelhamento ou resguarda que lhes possibilitasse sobreviver com dignidade.
Para mim, ao ser chamada de preta, a pessoa deveria saber que é um forte e se orgulhar disso. Sobreviveu às intempéries, às injustiças sociais, aos preconceitos, está viva e luta. Se o preto conseguiu ascender na escala social, independentemente de todas as forças em contrário, é um bravo. Se fez sozinho, como se dizia antigamente, já que a política de ações afirmativas no Brasil é recente e seus resultados, certamente, só vão ser percebidos daqui a alguns anos.
Gay, é preferência sexual e diz respeito a cada um. O gay “ofende” mais (sem o querer, obviamente) a quem o teme de alguma maneira, principalmente se esse alguém tem um desejo sexual incumbado que vem à tona quando vê o seu reflexo. Assumir a homossexualidade não é para qualquer um. É prova de coragem e de auto- respeito.
Então, qual o problema em Márcio Vítor ser preto ou gay? Isso não é desabonador. Ser favelado, muito menos. Se ele o foi, conseguiu sair da favela à custa do seu talento- como os demais negros que ascendem socialmente e que o conseguem seja pela arte, pela ciência, sempre pelo trabalho duro.
Desabonador para mim é ser preconceituoso como o empresário (dizem que ele é de Inhambupe; com certeza tem o pé na senzala, do que não deveria se envergonhar ), é roubar,matar, mandar matar,estuprar, subornar, ser um parasita social,corromper,ser corrompido, se atribuir um aumento de 61% em um já salário alto quando o trabalhador não consegue sequer um aumento real maior do que R$ 5. E por aí vai.... Essas coisas, sim, são para se ter vergonha. Insultar, como o tal empresário pretendeu fazer com Márcio Vítor não é vergonhoso para o cantor. Ao contrário, me lembra da resposta que a gente dava, quando criança, a quem de alguma maneira nos ofendia: “a careta fica na cara de quem faz”. E é na cara de quem faz que realmente deve ficar.
Falar nisso, alguém sabe qual o nome do asno?
sexta-feira, 4 de março de 2011
País Elétrico.....
Um povo inteiro e uma semana de pernas pro ar.
Quem quiser brincar o carnaval brinca, quem quiser descansar, descansa...
A maioria curte e se diverte.
O carnaval brasileiro é mesmo uma situação especial. Festa,muita festa. E Viva Dionísio.
Com um pouco mais de igualdade social, compromisso com o país e respeito aos cidadãos poderíamos nos chamar Utopia
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