domingo, 5 de dezembro de 2010

Quando o adeus é inesperado dói mais.....

O próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na nossa vida que não tenhamos, nisso, um dia a menos nela.

– Fernando Pessoa



Ontem à noite, ao chegar em casa voltando de um evento cultural no TCA vi Erick , filho de Dóris Pinheiro, minha vizinha, sozinho em pé na calçada do prédio onde mora. Baixei o vidro do carro e perguntei:”Erick, o que você está fazendo aí sozinho?” para logo em seguida ver o pai  dele, Fábio, que se aproximou de mim e disse: D. Lourdes faleceu. E eu:”quueem?" Ele: D. Lourdes. D. Lourdes, avó de Erick, mãe de Dóris, minha colega de profissão e de Roberto, meu colega no Científico, no Manoel Devoto." Ela estava doente?" "Não foi um enfarto".
Que coisa horrível são as surpresas. Detesto surpresas. Não gosto nem das boas porque podem ocorrer em uma hora que eu não esteja pronta. Imagino a dor dos filhos e de Erick.
Conheci D. Lourdes quando adolescente e costumávamos ir de vez em quando às casas dos colegas.  Lembro-me de tê-la vista esta semana da varanda do meu apartamento - nossos prédios ficam na mesma rua, em lados opostos, de frente um para o outro. Acenamos uma para a outra. Sempre nos saudávamos assim, ou rasgávamos seda mutuamente quando nos encontrávamos na rua, vindas da padaria, do mercado, da praia.

Dóris, arrasada, rosto inchado de chorar... O que dizer numa situação dessas? Fico sem saber o que falar, não quero repetir frases clichês. Mas o que falar então? Da minha pena? Como eu detesto mortes de uma hora pra outra? Do medo que tenho de perdas inesperadas??? Talvez as frases clichês sejam clichês, justamente, por serem as melhores a serem ditas nesses casos. Confortam, aliviam, mas não consigo. Não pareceriam sinceras. O que dizer?  Que temo o dia em que minha mãe se for, e que a sinto cada dia mais vulnerável ?Que me preocupo quando fala ao telefone de dores que nunca passam? "Quando minha mãe se for vai ser o caos; meus irmãos nunca estarão preparados. Às vezes penso em conversar com ela para se preparar,  e nos preparar para quando elafa ltar. Mas sei que ficaria furiosa, não entenderia a provavelmente deixaria de falar comigo por uns tempos..Diria que eu estou agourando e que ela podia viver mais do que eu. De fato, pode mesmo. O problema não é esse. Sinto que é preciso preparara as pessoas que dependem dela- e são muitas- para a sua ausência, como eu preparo meu filho, que espero deixar forte e senhor de si.

Dóris chora, chora e me emociono. “Como vou viver sem minha mãe”?, ela pergunta...Quem sou eu para saber a resposta???? Descobrir isso fará parte do seu aprendizado, até que a dor fique mais distante e que reste apenas a saudade.

Dizer que dona Lourdes era uma pessoa boa e que, certamente, será recebida pelos seus entes queridos que já se foram? Será que isso diminui a dor da perda? Acho que não. Não sei o que dizer. O que espero é que dona Lourdes seja recebida pelos anjos ( que precisam existir) e que eles a guardem e a protejam na divina luz.

Um comentário:

Jeferson Cardoso disse...

Aurora, essa situação é mesmo das mais difíceis de se saber o que dizer. Eu também gostaria de evitar os clichês, pois realmente soam artificiais.
Certa vez presenciei um experiente médico diagnosticando a morte de um paciente diante da família que estava presente no quarto. Ele disse: “Ele teve a vida dele, agora temos que seguir”.
Sim, cada um tem a sua vida. Agora como reagiremos quando uma vida próxima finda, aí é que são elas.
Quando não sei o que dizer, e sou íntimo o suficiente, eu apenas abraço a pessoa desconsolada.

“Para o legítimo sonhador não há sonho frustrado, mas sim sonho em curso” (Jefhcardoso)

Gostaria de lhe convidar para que comentasse o meu “A Cruel Vingança De Seu Ignácio”. Ok?
http://jefhcardoso.blogspot.com de blog em blog.