terça-feira, 2 de novembro de 2010

Eu, meus mortos, e o dia de finados

Cumprindo  as obrigações de finados, mais por mim do que por eles, que certamente  não andam mais por aqui, fui dar um grau, como dizem os jovens, quero dizer mais jovens que eu, nos túmulos dos meus mortos.O cemitério Jardim da Saudade ,onde repousam os restos de meu pai, avó, tia,sobrinho e cunhada, não estava muito cheio. Fui cedo e demorei para achar os túmulos procurados, porque me guiava por uma placa com o nome de um senhor que ,descobri depois, estava quase apagada. Zanzei algum tempo debaixo do sol e me culpei por não ter levado um chapéu. Alguns túmulos estavam enfeitados de uma maneira carinhosa, outras mais simples, alguns um tanto barrocos com flores de plásticos e outros sem nada.Algumas pessoas oravam silenciosamente, silencio entrecortado por soluços de uma mulher , que sentada junto a um túmulo, passava entre soluços uma flanela na placa de granito. Olhei-a com pena enquanto seu choro ecoava pela quadra cemiterial e pensei: "só se chora assim por um filho", o que confirmei em seguida quando ela passou a repetir "meu filho, meu filho".
As mães sempre se identificam umas com as outras. Tive vontade de chegar perto e falar alguma coisa, mas me afastei. Ela tem todo o direito de curtir sua dor, e chorar faz bem.
Achei o túmulo dos meus familiares que estão na mesma carreira, mandei limpar, molhar as plantas e plantar umas outras. Depois resolvi ir dar uma olhada no tumulo da minha amiga Lina que morreu há três anos atrás.
Achei o lugar depois de rodar bastante pelas quadras possíveis, procurando o ano de morte e finalmente achei. Nem uma florzinha (olha gente, quero ser cremada e minhas cinzas jogadas no mar do Rio Vermelho,atrás da Igreja de Nossa Senhora Santana). Acho que Lina não ligaria para isso, ela era meio materialista, já que aqui na Bahia as pessoas, de modo geral, são meio católicas, meio espíritas, meio evangélicas, meio candomblecistas e etc.. Chamei um rapaz e mandei dar um grau lá também.
Não sei porque tem gente que tem medo de ir a cemitério...Eu me sinto muito à vontade por lá. Por mim, enfeitava todos os túmulos.
Na saída, o grupo de idiotas de sempre tocando (muito mal) e cantando junto à lápide de Raul Seixas, esperando ser filmados por alguma emissora de tv- que todo ano fazem a mesma reportagem  e entrevista os mesmos caras (nem precisavam nem mandar uma equpe.Era só rodar o material do ano anterior). Os jornais, pior ainda..
Ai, coitado de Raul Seixas, ter que suportar todos os anos essas malas sem alça e sem talento desrespeitando a sua memória - Raul era maluco beleza- e enchendo a paciencia dos outros visitantes.
Pensando bobagem, como geralmente faço para relaxar, imaginei Raulzito saindo do túmulo vestido de metamorfose ambulante e gritando Buuuuuuuhhhhhhhhh. Seria muito divertido.

Um comentário:

Unknown disse...

Sou de Sampa e estive no referido cemitério, em 2006, para reverenciar e conhecer o túmulo do Raul. Não era dia de finados, nem nada, um dia comum de semana, estava de férias. Sendo fã de Raul, levei flores, tirei o barro e sujidades da lápide, orei e nada mais.
É um cemitério lindo, de muita paz!