terça-feira, 20 de julho de 2010

Sinto muito, mas tenho que fechar as janelas

Se eu fechar as janelas, pode chover à vontade. Gosto de ver as folhas balançando, os pingos d´água caindo no chão, e de ouvir o uivo do vento. Se tiver raios e trovões, melhor ainda.
O que atrapalha meu bem-estar são os outros. Os vigilantes que tomam conta da rua onde moro, ensopados nas suas roupas pretas de rambos mal ajambradas,  a noite inteira com frio, encolhidos dentro de si mesmos para ganhar uma mixaria, sem carteira assinada, sem segurança de nenhuma espécie e sem opção, a não ser o de passar para o lado daqueles dos quais nos guardam. Os porteiros dos prédios escondidos atrás das pilastras.
Os sem teto que se espremem debaixo das marquises, as pessoas nos pontos torcendo para o ônibus passar logo depois de um dia torturante de trabalho . As pessoas acordadas em seus barracos com medo de que eles desabem ou que um deslizamento de terra as soterrem para sempre. Aí, nem o aconchego do meu quarto, a penumbra, a manta quentinha e  uma valsa tocando baixinho conseguem impedir o meu frio. Eu não sou – graças a Deus- dessas pessoas muito sensíveis. Mas não dá para bancar a indiferente. Então, para me proteger, fecho todas as minhas janelas. Aí, sou só eu e a chuva e  um calorzinho gostoso. Que posso fazer? Não sou Deus. 

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