domingo, 22 de maio de 2011

A Bela Abandonada

Hoje, ao voltar da minha caminhada dominical me senti tentada a imitar crianças que se balançavam na gangorra de um canteiro na Garibaldi. Vontade reprimida, pois não tenho mais 12 anos-felizmente ou infelizmente ou ambos- idade limite para que se possa usar o equipamento nos parques públicos. Imaginei um guarda chegando para mim e dizendo : “a senhora não tem mais idade para usar uma gangorra” e desisti. Embora costume dizer que não tenho medo do ridículo, tudo tem limites.
Retomei minha caminhada e comecei a subida para a Cardeal quando quase me bato com um maluco-mendigo, sujo, descalço e fedido, com uma cara meio animalesca e  me desvio enquanto ele me chama “minha senhora, minha senhora” e depois de “Rute, Rute”. Aumento o passo pensando que se ele vier atrás de mim estou frita. Não conseguiria subir a ladeira correndo. Aliás, a essa altura, nem uma rampa.
Ele segue seu caminho, e  eu o meu pensando nos nomes que alguns doentes mentais guardam e que estão sempre emergindo de suas memórias. O que significam esses nomes para elas, o que essas pessoas representaram em suas vidas, e, até se essas pessoas existem. Lembro-me da mulher no ponto de ônibus que agarrava as passantes e lhes perguntavam: “você é Marianne?”, e pedia “não me abandone, Marianne”.
A caminhada foi boa, embora me irrite sempre com o abandono que vejo na cidade: Do Rio Vermelho à Ondina e à Av. Garibaldi, poças de água suja, muito buraco nas calçadas, jardins sem manutenção e cheios de mato. Salvador é a bela abandonada.
Hulk faz revisão do meu texto
Na praia do Escorre Sangue, perto da Pedra da Sereia, o futebol domingueiro com dois times, devidamente paramentados, disputam partidas enquanto a torcida se comprime na amurada com um fervor digno dos estádios. Isso acontece quase todos os domingos e eu adoro ver. Dois times jogam, enquanto outros dois se preparam. Os jogadores se abraçam em círculo e gritam palavras de ordem. Acho isso tão legal. Esse levar a sério, essa dedicação a um entretenimento. Estão aguerridos, prontos para o jogo. Talvez esses atletas de fim de semana se dêem muito mais à partida e se divirtam também muito mais que aqueles que nadam em rios de dinheiro.E como acho que não há dinheiro que pague uma boa diversão, me alegro que estejam vivendo momentos  felizes.
A bela abandonada merece mais cuidados e seus habitantes também.

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