sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Poema rôto

O homem dorme no barquinho.
Dia limpo
Como pode haver mal,
e dor debaixo do sol ?...
O mar está azul, faísca,
areia rosada, rochas com
musgos, pocinhas d´água.
Mergulho...
Um homem moreno passa e me olha
de alto a baixo.
Acompanho o olhar e
o devolvo irônica
debaixo de
minhas lentes escuras:
Não parece ( eu sei),
mas poderia ser sua mãe...
À frente, a praia da minha adolescência...
Lembranças de tardes ensolaradas
amigos , paqueras,
 frescobol,
e alguma  inconsequência,
como pular de um penhasco
sem saber nadar apenas por exibição...
Salva com o corpo arranhado,
alma ferida,
e ego arrasado
O penhasco ainda está lá,
coberto de verde: coqueiros,
mandacarus,e mal-me-queres.
De um lado o farol e o Cristo,
do outro o Morro da Sereia.
Passo no meio de um baba,
atrapalho o jogo e os meninos
me olham irritados.
"Desculpem, foi sem querer"...
Sim, eu sei que é um privilégio,
quem sabe uma graça,
poder estar
onde estou agora,
caminhando na praia,
banhada de sol,
em dia de semana.
A calma do mar se reflete
em mim.
Estranho a sensação de beatitude.
A felicidade dá medo, já sei. 
Olho para cima e peço ao velhinho de barbas brancas:
“Deus, por favor, tire esse sorriso bobo do meu rosto.”

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