quarta-feira, 9 de março de 2011

A fala dos imbecis

Márcio Vítor, vocalista do Psirico, foi alvo de preconceito durante o carnaval por parte de um suposto empresário, no Camarote do Reino, que o chamou de “preto, favelado e gay”. Os jornais que tocaram no assunto não disseram em que contexto isso se deu, nem o nome do sujeito.
Penso que Márcio perdeu uma boa oportunidade de colocar o tema em uma boa discussão. Ele poderia ter dado queixa, ou mesmo debatido com o imbecil cujo nome desconhecemos até este momento. Na minha opinião, Márcio Vítor foi alvo de preconceito, mas a vítima mesmo é o tal empresário, já que preconceito é sinal de ignorância, falta de instrução e mais do que isso: de burrice. A vítima de preconceito é o “empresário”. Preconceito é doença. Ele deveria se tratar.
O sujeito ignóbil -adoro essa palavra- poderia se “ tratar” na cadeia, já que o crime resultante de preconceito de raça ou de cor, estabelece conforme a Lei 9.459 de 15/05/19977, artigo 20, a pena de reclusão de um a três anos e multa por “praticar, induzir ou incitar a discriminação por preconceito de raça, cor etnia, religião ou procedência nacional”.
A questão não é ser chamado de preto – branco ou amarelo- é a conotação pejorativa que se dá à cor. Tampouco de pobre e favelado, já que a desigualdade é estrutural neste país, onde segundo dados do IPEA- Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada os 10% mais ricos ganham 28 vezes a renda dos 40% mais pobres....Ser pobre ou morar em favela não é característica de raça ou cor. É uma conseqüência do período escravocrata quando pessoas do continente africano eram retiradas de sua terra e trazidas para o Brasil para trabalhar na agricultura, mineração e até mesmo nas casas dos senhores. A abolição da escravatura tirou dessas pessoas o estigma de ter um “dono”, mas por outro lado deixou-as sem condição de sobrevivência. De escravos se transformaram em párias. Deixaram de ter uma casa e um dono que as alimentasse e provesse como antes, para melhor explorar o seu trabalho, e foram jogadas às ruas sem nenhum aparelhamento ou resguarda que lhes possibilitasse sobreviver com dignidade.
Para mim, ao ser chamada de preta, a pessoa deveria saber que é um forte e se orgulhar disso. Sobreviveu às intempéries, às injustiças sociais, aos preconceitos, está viva e luta. Se o preto conseguiu ascender na escala social, independentemente de todas as forças em contrário, é um bravo. Se fez sozinho, como se dizia antigamente, já que a política de ações afirmativas no Brasil é recente e seus resultados, certamente, só vão ser percebidos daqui a alguns anos.
Gay, é preferência sexual e diz respeito a cada um. O gay “ofende” mais (sem o querer, obviamente) a quem o teme de alguma maneira, principalmente se esse alguém tem um desejo sexual incumbado que vem à tona quando vê o seu reflexo. Assumir a homossexualidade não é para qualquer um. É prova de coragem e de auto- respeito.
Então, qual o problema em Márcio Vítor ser preto ou gay? Isso não é desabonador. Ser favelado, muito menos. Se ele o foi, conseguiu sair da favela à custa do seu talento- como os demais negros que ascendem socialmente e que o conseguem seja pela arte, pela ciência, sempre pelo trabalho duro.
Desabonador para mim é ser preconceituoso como o empresário (dizem que ele é de Inhambupe; com certeza tem o pé na senzala, do que não deveria se envergonhar ), é roubar,matar, mandar matar,estuprar, subornar, ser um parasita social,corromper,ser corrompido, se atribuir um aumento de 61% em um já salário alto quando o trabalhador não consegue sequer um aumento real maior do que R$ 5. E por aí vai.... Essas coisas, sim, são para se ter vergonha. Insultar, como o tal empresário pretendeu fazer com Márcio Vítor não é vergonhoso para o cantor. Ao contrário, me lembra da resposta que a gente dava, quando criança, a quem de alguma maneira nos ofendia: “a careta fica na cara de quem faz”. E é na cara de quem faz que realmente deve ficar.

Falar nisso, alguém sabe qual o nome do asno?

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