quinta-feira, 29 de março de 2012

Salvador, cidade fortaleza e mãe

Foto: Hieros Vasconcelos

* Aurora Vasconcelos

Quando Thomé de Souza chegou à Baía de Todos os Santos, há 463 anos atrás, trazia como missão construir a mais poderosa fortaleza militar de Portugal no Hemisfério Sul.  A cidade nasceu de um projeto político com regimento datado de 17 de dezembro de 1548 que instituiu para ela poderes e deveres, limites e ações, forma e conteúdo. As informações fazem parte do livro “A Fortaleza do Salvador na Baía de Todos os Santos”, de Luiz Walter Coelho Filho, um advogado que transformou seu amor por Salvador e o interesse pela sua história em um ensaio, que conta detalhadamente como foi criada a primeira capital geral do Brasil, em apresentação escrita pelo historiador Francisco Senna.
Essa história está no Códice 112 , livro de registros dos atos do Governo Geral, aberto em 1º de janeiro de 1549. A seleção do local, a definição do perímetro, a construção dos acessos, a articulação entre o alto e o baixo, o traçado urbano, a localização da Sé, a posição da praça principal, a simetria das formas, a concepção dos baluartes e tantos outros itens, como explica o autor do ensaio, possuem individualidade histórica.
Os turistas que caminham sobre as pedras do Centro Histórico de Salvador, e principalmente os próprios baianos, em geral desconhecem os interesses e detalhes que deram origem a esta cidade que têm hoje cerca de três milhões de habitantes e que carece de um novo projeto para transformá-la numa cidade mais habitável e acolhedora.. A  polis cresceu, se expandiu e seus constantes engarafamentos e dificuldades de locomoção, bem como construções irregulares de ponta a ponta, comprovam a falta de um plano administrativo tornando a cidade viável para a sua população.
A Salvador, que fica fora dos limites do Centro Histórico e também dentro dele, está quase insuportável na visão dos seus moradores, que trocam impressões pelas redes sociais lamentando e exigindo mais cuidados para a formosa matriz das capitais brasileiras. Embora o objetivo dos portugueses tenha sido uma cidade forte, capaz de defender seus interesses dos piratas e dos inimigos do Reino, a sua criação no platô da Misericórdia tornou possível admirar a maravilhosa vista da Baía de Todos os Santos e de vários recantos da Soterópolis.
O traçado do projeto está preservado no Centro Histórico, como enfatiza Luiz Walter: algumas ruas foram alargadas, as rampas de acesso foram secionadas pela Ladeira da Montanha, a Igreja da Sé foi demolida para dar passagem às linhas dos bondes em 1938, no que os historiadores consideram um erro histórico, mas o básico ainda está lá. E é preciso dignificar a nossa história. Ao tentar fazer a sua parte, o escritor que nesta quarta vai receber a medalha Thomé de Souza, na Câmara dos Vereadores, estará lançando um vídeo com a reconstituição do projeto no sítio original. Um presente para a cidade que na visão daqueles que a amam merece mais respeito e mais carinho daqueles que a administram.

·      Publicado no jornal Tribuna da Bahia  de 28/032012

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